quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre marketing, auto-imagem, divulgação de imagem...


Atum Tenório


Atum Tenório hoje
O atum “TENÓRIO” é dos poucos que ainda não foram à televisão apresentar as suas reivindicações. Trata-se de um atum bastante antiquado, muito pouco dado aos aliciantes dos “mass media”. O rosto de Francisco Rodriguez Tenório que fita do centro da lata, realçado severamente por suas suíças longas e sobrolho carregado, é ele próprio uma garantia implacável de tradição e de honestidade.
Não alinha nas campanhas publicitárias com que os atuns menores se procuram agraciar junto aos espectadores. O “Tenório” é o Alexandre Herculano dos atuns enlatados – sóbrio, fidedigno, objectivo e bom. A efígie de Dom Luís, Rei de Portugal, protector da Exposição na Real Tapada em 1804, fala-nos de um tempo passado, em que um atum ainda era um atum, um Rei ainda era um Rei, e os mares ainda eram nossos.
Em parte alguma da embalagem se lêem adjectivos gratuitos. Não diz “delicioso” nem “econômico”. Não diz nada. Nem sequer diz “de fácil abertura” – até porque a abertura é saudavelmente dificílima. O atum “Tenório” não é atum para facilitar a vida do utente – não tem embalagem de celofane com chave lá dentro. Nem uma coisa nem outra – só a lata e o atum. Presume, com justificada arrogância, que a qualidade do peixe obriga o consumidor a responsabilizar-se por encontrar uma chave, um maçarico, o que seja. O bom atum Francisco Rodriguez Tenório não está decididamente para brincadeiras.
Cada lata custa aproximadamente 150$00, o que não é barato nem caro, mas inteiramente justo.

Fonte: Miguel Esteves Cardoso, A causa das coisas, 7 ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 1988, p. 308.

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