segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Botão “curtir” e captura de dados do Facebook são considerados ilegais na Alemanha‏


*Notícia de Berlim, Alemanha, da agência Associated Press. http://www.ap.org/

Via Henrique Parra
Tradução de Felipe Cabral
Uma autoridade alemã de proteção de dados está “descurtindo” o botão “Curtir” do Facebook.
O comissário* de proteção de dados do estado de Schleswig-Holstein, na última sexta-feira ordenou que instituições do Estado retirassem as “Fan pages” do Facebook e que removessem o botão “Curtir” de seus sites, alegando que isso leva ao perfil, violando leis alemãs e européias.
O Facebook insistiu, ainda na sexta-feira, que está em total conformidade com as leis europeias de proteção de dados.
O comissário Weichert emitiu uma declaração dizendo que a análise técnica efetuada por seu gabinete mostra o Facebook violado leis alemãs e européias de proteção de dados, passando os dados de conteúdo para os servidores da rede social, nos EUA.
Ele disse: “Quem visita o site facebook.com ou usa um plug-in de interação com o site deve ficar certo que, ele ou ela vai ser monitorado pela empresa Facebook por dois anos. O Facebook, com esse monitoramento, constrói uma ‘individualidade alargada’ e para seus ‘membros’ sempre em um perfil personalizado.”

Um porta-voz do Facebook reconheceu que a empresa tem acesso a “informações como o endereço IP” dos usuários que visitam o site com um botão de “Curtir”.
“Nós excluímos esses dados técnicos no prazo de 90 dias”, disse o porta-voz, que não quis dar seu nome, de acordo com a política da empresa. “Isso está de acordo com os padrões da indústria normal.”
O gabinete do comissário Weichert ordenou que donos dos sites em Schleswig-Holstein “interrompam imediatamente o repasse de dados de usuários para o Facebook nos EUA desativando os respectivos serviços na rede social” e ameaçou tomar medidas legais se isso não for cumprido.
Ele pediu também aos usuários da Internet em geral que “mantenham os seus dedos longe do clique nos botões ‘curtir’, em quaisquer sites” e que “não criem uma conta no Facebook” para evitar que seus dados sejam capturados do perfil.
Os guardiões das rígidas leis de privacidade da Alemanha têm repetidamente colidido em questões de privacidade com gigantes internacionais da Internet, como o Facebook e o Google – muitas vezes com sucesso.
No ano passado, o Google teve de permitir que os alemães que se opusessem ao seu sistema de Mapeamento de Ruas (Google Street View) borrassem as imagens de suas casas, enquanto o Facebook, em janeiro, teve de conceder mais controle aos usuários sobre seus catálogos de endereços de e-mail, após uma disputa envolvendo o aplicativo “Friend Finder” (buscador de amigos).
A última desavença Alemã com Palo Alto, cidade cede da empresa Facebook, também vem uma semana depois de um dos principais membros do partido conservador alemão, o UDC (União Democrata Cristã, mesmo partido da chanceler Angela Merkel), em Schleswig-Holstein, quando este renunciou ao cargo após admitir ter um caso com uma garota de 16 anos que conheceu no site.
Depois da renúncia, Christian von Boetticher, provocou um debate sobre o papel dos meios de comunicação na vida dos políticos, no qual jornais alemães ficaram cheios de relatórios de membros do seu partido, trazendo também forte reação ao tempo gasto por legisladores do estado com postagem de informações no facebook, mais tempo do que o usado no foco de trabalho. Desde então, ele excluiu o seu perfil Facebook e permanece assim.
* N.T.: na Alemanha e em diversos países europeus, o termo comissário é usado para designar um funcionário público que tem função próxima de “Promotor do Ministério Público”.
Outros veículos que divulgaram a notícia:
Search Engine – Facebook’s ‘Like’ Button Declared Illegal In Germany
http://searchengineland.com/facebooks-like-button-declared-illegal-in-germany-89915
Fox News – Facebook’s ‘Like’ Button Declared Illegal by German State
http://www.foxnews.com/world/2011/08/20/facebooks-like-button-declared-illegal-by-german-state/
New User – German Official: Facebook ‘Like’ Button Unlawful
http://www.newser.com/story/126339/german-official-facebook-like-button-unlawful.html

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vilões e mocinhos? É bem mais complexo - e dinâmico!

Cinco episódios em que governos tentaram controlar a internet

24/08/2011
Do blog Geek List, na Info Exame
 
Às vezes, amistosa, outras, em polvorosa. Assim pode ser definida a relação entre governos e empresas web. Os embates se acirraram ainda mais depois que os usuários descobriram como derrubar governos com a ajuda das redes sociais. Agora, os políticos querem conversar e, talvez, estabelecer regras para o uso da web. Confira abaixo cinco batalhas dessa queda de braço:
 
1 – China invadiu o Gmail
O episódio, que começou como uma invasão de e-mail, quase gerou uma crise diplomática. O governo chinês foi acusado de rastrear mensagens, trocados via Gmail, de ativistas contrários ao regime. A China negou a invasão. Contrariado, o Google ameaçou deixar o país. No fim, nada aconteceu, mas as relações entre as partes nunca mais foram as mesmas.
 
2 - Áustria proibiu Street View nas ruas
Acusados de acessar indevidamente dados de usuários compartilhados por meio de redes Wi-Fi, os carros do Google foram proibidos de trafegar nas ruas da Áustria. E os austríacos não foram os únicos. Alemanha, Canadá, Itália e Estados Unidos também abriram investigações para saber quais eram as reais intenções do Google com o serviço.
 
3 – Egito bloqueou a internet
Após o início dos protestos em janeiro deste ano, o então presidente do país, Hosni Mubarak, decidiu cortar o acesso da população à web. A fim de ajudar os egípcios a denunciarem os abusos cometidos pelo ditador, o Google lançou um canal que recebia os tuítes enviados via SMS e fazia a atualização das contas no Twitter. Mubarak foi deposto, e a internet voltou a operar no país após alguns dias.
 
4 – Sarkozy queria controlar a web
Assustando com a onda de revoluções mobilizadas pela web que atingiram o mundo árabe, o presidente da França defendeu a regulação da web pelos governos durante a e-G8, encontro de grandes executivos da web com autoridades governamentais, realizado em maio deste ano. “Eu não consigo imaginar nenhum delegado nesta conferência que gostaria de ver o crescimento da internet retardado devido a regras estúpidas impostas por um governo”, rebateu o ex-CEO do Google, Eric Schmidt.
 
5 – Inglaterra vai se reunir com redes sociais
Após a onda de violência, mobilizada por meio de redes sociais, que assolou o país, o primeiro-ministro, David Cameron, decidiu convocar uma reunião com representantes do Twitter, do Facebook e do BlackBerry para discutir formas de controle sobre os serviços. O encontro está marcado para esta quinta-feira (25). Novos capítulos da novela devem ser divulgados em breve.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Estereotipar os jovens já não é boa estratégia. Ainda bem!

Quem são as “bestas selvagens” inglesas? 

Fonte: Boletim Carta Maior

Com mais 2.300 prisões e mais de 1.200 processados por roubo ou violência, o desfile pelos tribunais não mostrou nenhuma “besta selvagem”. Ao invés disso, o perfil dos acusados surpreendeu os britânicos que tiveram que enterrar a primeira caracterização simplista – negros, afrocaribenhos, pobres e excluídos. Designers gráficos, estudantes universitários, professores, adolescentes, púberes, desempregados, marginais, um aspirante a entrar no exército, uma modelo: a variedade desafia qualquer estereótipo. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

“Indignados” não são. Nenhum discurso articula o protesto, não existe uma lista mínima de demandas como ocorreu com as manifestações dos estudantes ingleses contra a triplicação do valor das matrículas universitárias no ano passado. Os distúrbios em Londres e outras cidades inglesas se parecem mais com os de Paris em 2005, ou os de Los Angeles em 1992. O primeiro ministro David Cameron e a poderosa imprensa conservadora não querem entrar em complexas reflexões sociológicas. “O que ocorreu é extremamente simples. Trata-se de pura delinquência”, disse Cameron no debate parlamentar convocado em caráter de emergência. O autor de vários livros de história militar, entre eles “A batalha das Malvinas”, Max Hastings, foi mais longe: “São bestas selvagens.

Comportam-se como tais. Não têm a disciplina que se necessita para ter um emprego, nem a consciência moral para distinguir entre o bem e o mal”, escreveu no Daily Mail.

Com mais 2.300 prisões e mais de 1.200 processados por roubo ou violência, o desfile pelas cortes não permitiu ver nenhuma “besta selvagem”. Ao invés disso, o perfil dos acusados surpreendeu os britânicos que tiveram que enterrar a primeira caracterização simplista – negros, afrocaribenhos, pobres e excluídos – para começar a entender um fenômeno complexo. Designers gráficos, estudantes universitários, professores, adolescentes, púberes, desempregados, marginais, um aspirante a entrar no exército, uma modelo: a variedade era de um tamanho suficiente para desafiar qualquer estereótipo. 
Cerca de 80% dos que desfilaram pelos tribunais têm menos de 25 anos. A metade dos processados são menores de 18: muito poucos superam os 30 anos.

O apelido de “besta selvagem” tem uma arrogância de classe que não deveria ocultar seu principal objetivo: despojar os distúrbios de qualquer significado. A milhões de anos luz desta perspectiva, Martins Luther King dizia que “os distúrbios são a linguagem dos que não têm voz”. Na Inglaterra, o problema é que esta linguagem foi, em vários momentos, um balbucio ininteligível.

Macbeth na encruzilhada
O conflito começou com os protestos pela morte de Mark Duggan, no bairro de Tottenham, baleado pela polícia que, aparentemente, foi rápida demais no gatilho. Em um primeiro momento era um protesto político local marcado pela tensão étnica em um bairro pobre: o primeiro objeto de ataque foram dois carros de patrulha da polícia queimados pelos manifestantes. Este pontapé inicial converteu-se rapidamente em quatro noites de saques de grandes lojas, roubo indiscriminado de comércios de bairro e indivíduos e enfrentamentos com a polícia em bairros pobres de Londres e da maioria das grandes cidades da Inglaterra.

Mas além de expressar uma exuberância dionisíaca, destrutiva e raivosa, que sentido pode ter o incêndio de uma pequena loja familiar de móveis no sul de Londres que havia sobrevivido a duas guerras mundiais? Como explicar que dois tipos com aspecto de hooligans simularam ajudar um jovem ferido para roubar-lhe o que ainda não tinham lhe roubado, como ocorreu com o estudante malaio Ashrag Haziq? Os distúrbios foram então “um relato contato por um idiota cheio de som e fúria que não significa nada”, como na famosa definição que Shakespeare faz da vida em Macbeth?

Nos distúrbios houve de tudo. A presença de bandos de jovens e o roubo meramente oportunista estiveram tão na ordem do dia como o uso de torpedos via celular para coordenar os ataques em lojas e bairros. Em uma sociedade onde o dinheiro se converteu em valor absoluto, a identidade parece definir-se, para muita gente, pela posse de tênis de marca ou do modelo de celular mais recente, ao qual essas pessoas não tem acesso porque vivem mergulhados na pobreza. Se a oportunidade aparece, por que não? Isso é o que fazem os banqueiros, os políticos, as grandes fortunas.

O atual ministro da Educação, Michael Gove, disparou indignado contra “uma cultura da cobiça, da gratificação instantânea, do hedonismo e da violência amoral”. O mesmo Gove gastou em 2006, 10 mil dólares para sua casa e passou a conta para a Câmara dos Comuns como parte de sua “dieta” parlamentar. Entre os objetos adquiridos, havia uma mesa que custou mais de 1.000 dólares, um móvel Manchu por 700 dólares e um abajur de 250 dólares.

Pobreza e gangues
Um dos casos que contribuíram para romper o estereótipo foi o de Alexis Bailey, um professor de escola primária de 31 anos, muito respeitado em seu trabalho, preso em uma loja da Hi-fi em Croydon, sul de Londres. Bailey ganha 1.000 libras em mês (cerca de 1.600 dólares) e paga de aluguel mais da metade disso: 550 libras (uns 900 dólares). No caso de Bailey, como no de Trisha, graduada em Psicologia Infantil que acaba de perder seu trabalho, percebe-se o núcleo de uma narrativa distinta da “mera delinquência” de “bestas selvagens”. “Ainda estou pagando o empréstimo que recebi para estudar. Cameron não faz nada. Não tem ideia do que é ser jovem. Dizem que nos aproveitamos dos benefícios. Mas queremos trabalho”, disse Trisha ao The Guardian.

Estes germens de discurso apareceram várias vezes. Na voz de uma mãe em um supermercado (“não tem nada, o que vão fazer?”), na de um jovem desempregado (“é preciso se rebelar”). As gangues juvenis são a expressão final e niilista deste fenômeno de não pertencimento social e de falta de perspectiva de vida. “As gangues oferecem uma relação de pertencimento a uma estrutura, uma disciplina, um respeito que os jovens não encontram em nenhum outro lado”, escreve Ann Sieghart no The Independent.

Esta semana, em um primeiro distanciamento de sua própria caracterização dos distúrbios, David Cameron lançou uma revisão de toda a política governamental para “recompor uma sociedade exausta”, evitar uma “lenta desintegração moral” e “solucionar problemas sociais que cresceram durante muito tempo”. É um começo. O que está claro é que as prisões, que em sua maioria já estão superpovoadas, não resolvem o problema de fundo: em alguns meses os mesmos jovens sairão para as ruas. A grande questão é se uma coalizão como a conservadora-liberal democrata, que fez do ajuste fiscal uma religião, pode levar adiante uma política mínima que comece a lidar com um fenômeno que tem complexas raízes econômicas sociais e culturais.

Tradução: Katarina Peixoto