quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As manchetes, as desinformações, as deformações

A tragédia, a mídia e a lógica da senhora Watanabe
 
A incapacidade de pensar sobre um acontecimento, o que implica fazer perguntas antes de oferecer respostas, e enxergar o todo a salvo de enquadramentos binários, não é um apanágio exclusivo do olhar conservador.

A esquerda também tem contas a acertar no balcão do reducionismo.

Mas a tentativa de desfrute político da tragédia de Santa Maria por parte de alguns veículos e colunistas (leia o desabafo de Flávio Aguiar) remete a uma terceira dimensão do problema.

Evidencia o risco enfrentado pelos protagonistas de um ciclo histórico quanto a sua estrutura de reflexão encontra-se obstruída por um poder capaz de empobrecer o olhar da sociedade sobre ela mesma.

A tragédia reafirmou a asfixiante insuficiência da pauta utilitarista que hoje domina o debate nacional.

O oposicionismo obcecado tornou a mídia incapaz de reagir mesmo à 'dor indescritível', evocada pela Presidenta Dilma.

Mais que isso.

Perdeu-se a dimensão narrativa, política e histórica da palavra solidariedade.

Pasma diante de uma população inteira em choque, a narrativa esclerosada assina seu atestado de irrelevância em momentos em que somente a solidariedade pode devolver sentido à vida e a sociedade.

A tragédia de Santa Maria questiona normas e procedimentos de segurança em recintos de frequência pública.

'Para que não se repita',disseram Dilma e Tarso Genro, a lei e a fiscalização terão que mudar.

Mas a extensão do que deve mudar vai além das normas técnicas.

Ela argui também o despreparo de redações uniformizadas diante da tragédia.

Uma parte importante do jornalismo revelou-se incapaz de apontar as portas de saída.

De acudir a tempo feridas insuportáveis.

De arejar o horizonte irrespirável.

E de sacudir a própria catatonia quando eventos irredutíveis pela sua extensão, emergência e intensidade escapam à pauta previsível e polarizada.

Como reagiria essa mesma mídia aferrada à batalha do dia anterior, diante de um acontecimento de dimensões ainda mais devastadoras em perdas humanas?

E se ele perdurasse ao longo de dias?

Teria ela grandeza para enxergar a Nação?

Ou persistiria na gulosa contabilidade de pontos em causa própria ?

Seria um interlocutor relevante do desespero para transformá-lo em criatividade e superação?

Ou cuidaria apenas de direcioná-lo aos seus alvos fixos?

Analistas esfericamente imunes à dúvida, dotados de conclusões antecedentes, de pronto levaram o país e o governo ao cepo de sua especialidade.

Sentenciaram diante de 234 mortos a incapacidade nacional para aspirar a qualquer coisa que extrapole a ração servida aos vira-latas em meia cuia de queijo Palmira.

Coube ao editor de Carta Maior, o gaucho Marco Aurélio Weissheimer, em tocante texto de primeiro hora (leia nesta pág) desnudar a profundidade do ferimento que atingia a alma de sua gente e a de todo o país.

E ainda assim vislumbrar o ponto de luz por onde recomeçar.

Que autoridade tem para pautar o debate de outras urgências nacionais aqueles que enxergam do país sempre, e exclusivamente, a sua derrota preliminar e inapelável?

Não há retórica na pergunta. Há apreensão com lacunas que enfraquecem o discernimento da sociedade.

Equilibra-se o Brasil em um delicado meio fio do seu desenvolvimento.

Avançar requer a redefinição de prioridades.

Estas pressupõem o deslocamento correspondente de massas de recursos reclamados na ponta do investimento produtivo.

Cada novo ciclo na vida de uma Nação tem sua pauta de reflexão estratégica.

Dela depende a construção das grandes maiorias que ordenam o passo seguinte do desenvolvimento.

Não se faz isso sem a mediação de uma caixa de ressonância plural, crítica e democrática.

Que saiba fazer perguntas antes de oferecer respostas; e seja capaz de pensar sobre o que enxerga e de enxergar o todo, a salvo de enquadramentos redutores.

Exatamente o que foi sonegado de pronto no episódio de Santa Maria.

Não foi um tropeço diante do imprevisto devastador.

A ausência desse descortino pontua ardilosamente o noticiário econômico, por exemplo. Há meses.

Armadilhas se ocultam no interior de manchetes; espertezas reforçam a emboscada do espírito.

Um alarme desta semana no noticiário financeiro:

'A senhora Watanabe trocou o Brasil pela Turquia'.

'Senhora Watanabe' é o código com o qual o mercado japonês identifica o investidor miúdo – donas de casa, casais aposentados, viúvas.

Pequenos poupadores, enfim.

São personagens intrinsecamente conservadores; realizam aplicações óbvias, mas no conjunto acabam tendo um peso significativo, deslocando massas de recursos pelo planeta, através de fundos e outras modalidades de investimentos.

Uma das aplicações preferidas das 'senhoras Watanabes' até recentemente eram papéis brasileiros.

Por razões óbvias.

Até meados de 2012 a taxa de juro do Brasil brilhava no topo do campeonato mundial.

O Japão patina há mais de uma década em crise. Debate-se emparedado entre a subserviência aos EUA e a competitividade do gigantesco vizinho chinês.

As taxas de juros no Japão são negativas; a economia se arrasta; não consegue escapar da areia movediça da deflação.

Nem com taxas de juros de 0,7% ao ano.

Mas a senhora Watanabe não perde tempo.

Toma empréstimos em ienes a juros quase negativos; aplica-os em títulos e ações nos pastos de engorda do dinheiro especulativo em todo o planeta.

Tem a companhia de um séquito de miúdos e graúdos nessa operação.

Com a reversão da curva dos juros no Brasil de Dilma – e a taxação do dinheiro arisco – a legião desiludiu-se com a praça brasileira.

'A senhora Watanabe trocou o Brasil pela Turquia'. Mas também pelo México, a Polônia...

Um empréstimo tomado em iene investido em títulos turcos faturou um ganho de 30% em 2012.

O tsunami de Watanabes à Turquia valorizou a lira - e rendeu um plus de outros 20% aos especuladores na reconversão cambial de regresso à origem.

No Brasil, deu-se o oposto.

A mesma aplicação da senhora Watanabe aqui renderia 9,8%.

No comparativo das Bolsas, idem.

Na mexicana, a senhora Watanabe obteve um ganho de 23% em dólares no ano passado; na colombiana, 22%; na Bovespa, seu passeio teria custado uma perda de 10% em dólares.

A diáspora dos Watanabes é narrada como sintoma de perda de confiança no país.

É o oposto. É sintoma de soberania de uma política econômica feita para ser um escudo na defesa de empregos, indústrias, salários, receita e investimento público.

Mas serve como 'evidência' de fracasso do 'intervencionismo desenvolvimentista' do governo Dilma.

O 'prejupizo' é notificado em cores vivas. Com o manejo de símbolos contundentes. E fontes de prestígio.

O 'Financial Times', por exemplo.

Que disparou um petardo contra a Petrobrás nesta 2ª feira:

'A Ecopetrol, a petroleira da amigável Colômbia, tornou-se a maior companhia do ramo na América Latina; maior que a Petrobras', afirma o jornal inglês.

Como assim?

Assim, explica o FT: 'políticas amigáveis' aos negócios atraíram os investimentos (...) as ações da Ecopetrol registraram uma valorização de mais de 50% (...) seu valor de mercado (na Bolsa) n sexta-feira bateu em US$$ 129,5 bilhões. O da Petrobras é de US$$ 126,8 bi.

Isso tudo apesar de a brasileira ter uma produção três vezes maior do que a colombiana;ademais das reservas do pré-sal, que projetam o Brasil entre os seis maiores produtores de óleo na próxima década.

Coube ao diretor-executivo da Ecopetrol, Javier Gutiérrez, em entrevista ao próprio jornal inglês, matizar as coisas:

'Não se pode comparar; a Petrobras é uma gigante... O valor de mercado é simplesmente um reflexo da confiança que o mercado deposita na Colômbia em geral, e na Ecopetrol em particular'.

A nuance fica escondia no corpo do texto.

Nuances tem pouco espaço no jornalismo das manchetes binárias.

O repto conservador ao governo do PT pede cores fortes.

E argumentos rígidos.

Diz o bem-informado jornal Valor Econômico que a visão de Aécio Neves, por exemplo, é que "o Brasil precisa abrir-se mais aos mercados e que o modelo de integração em vigor traz resultados pífios."

A tentativa de desfrute político da tragédia de Santa Maria não foi um ponto fora da curva.

O empobrecimento do olhar jornalístico sobre o país desenha uma curva ascendente; revela a extensa capilaridade de um endurecimento narrativo deformador.

Uma incapacidade de assimilação da vida nacional em toda a sua extensão.

Mesmo quando se depara diante da dor que fala a todos nós.



Postado por Saul Leblon às 21:50
29/01/2013


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Comunicação e expressão: a questão está posta em toda parte!

The National Conference for Media Reform is dedicated to changing the media and building a better democracy. The conference will be held in Denver on April 5–7, 2013.

We’ll tackle lots of big questions in Denver. Will innovation and creativity flourish online, or will corporations lock the Internet down? How will the next generation of journalists redefine what it means to report the news? Will communities have access to the technologies they need to solve the problems they face? How can we take on big companies and corrupted policymakers — and win?
Our conference brings together some of the nation’s best thinkers, activists and media makers because we believe that building a better world begins with people connecting to each other in person.



***

China: jornalista conta como funciona a censura à mídia no país

No início de janeiro, a redação do "Semanário do Sul", publicado em Guangdong, China, declarou greve contra a censura prévia praticada pelas autoridades da província na edição especial de Ano Novo. A ação levou um amplo movimento de solidariedade de muitos outros veículos de imprensa chineses. Neste artigo, publicado no portal Esquerda.net, Qian Gang, jornalista que trabalhou no semanário, descreve as práticas de censura que o PCC pratica sobre a imprensa do país e nesse caso específico.

 
 



Numa palestra que dei há mais de um mês na Universidade de Hong Kong, sugeri modestamente que os dois primeiros passos para a reforma política na China poderiam ser: um tratamento mais tolerante para com os meios de comunicação e um maior respeito aos direitos da população chinesa. No debate que se seguiu, várias pessoas criticaram a falta de ambição desta perspetiva. "Não deveríamos ir mais longe?", perguntaram. No entanto, na última semana vimos como até estes "tímidos" desejos se chocaram com uma forte resistência na China. E nunca eu tinha imaginado que a primeira prova, o primeiro episódio importante do ano 2013 na China, em matéria de meios de comunicação, aconteceria no jornal em que eu trabalhei, o Semanário do Sul (Nanfang Zhoumo).

O conflito, agora denominado "incidente da saudação de Ano Novo do Semanário do Sul", começou com a brutal intromissão das autoridades de propaganda da província de Guangdong nos preparativos da edição de Ano Novo do jornal. Na reação que provocou, foi criticada a censura. A quem deseje compreender melhor o incidente do Semanário do Sul, recomendo em particular dois artigos. O primeiro, "Denúncia da exclusão dos veículos de imprensa pelo Partido", é obra do ex-redator-chefe do Diário Metropolitano do Sul, Cheng Yizhong. O segundo, "Quem reviu a saudação de Ano Novo do Semanário do Sul", foi escrito por Zeng Li. Este trabalhava, na realidade, no Semanário do Sul como revisor de conteúdos, e no meio da crise publicou um artigo num blogue no qual desmentiu rotundamente os rumores de que os chefes de propaganda provinciais não tinham sido responsáveis pelo conflito no Semanário do Sul. Zeng apresentou provas concludentes da existência da censura.

Para ser preciso, a China não tem (ou normalmente não tem tido) o tipo de censura sobre o material impresso que foi prática comum no tempo do Kuomintang. Com Mao Zedong, a mensagem da imprensa estava totalmente unificada. Na era de Deng Xiaoping, falou-se de reforma, e um vice-ministro da propaganda chegou a dizer então que "o que os jornais publicam ou não publicam é algo que deveria ser decidido pelos próprios jornais". Depois do massacre de 4 de junho de 1989 na praça Tiananmen, no entanto, os meios de comunicação voltaram a estar submetidos a um estrito controle. Durante o mandato de Jiang Zemin, os controles diários dos média eram exercidos sobretudo na forma de "ordens e proibições prévias" e "castigos a posteriori".

Proibição e castigo
Quando trabalhei como subchefe de redação no Semanário do Sul, de 1998 a 2001, vi numerosas "ordens e proibições" e vários exemplos de "castigo". As primeiras delimitam e restringem basicamente o trabalho antes da publicação; estabelecem o que se pode e não se pode informar e como deve fazê-lo. Talvez também indiquem o que tem de ser informado. O castigo costuma ser imposto pelo "grupo de comentário de notícias" do Departamento de Propaganda, que rastreia o conteúdo da mídia, chamando à ordem quando se descobrem "problemas" retrospectivamente. No tempo em que estive no Semanário do Sul, recebíamos regularmente uns dez ou mais "comentários de notícias" por ano do Departamento Central de Propaganda. Cada vez que isso ocorria, os diretores superiores - os da nossa matriz, que edita o Diário do Sul - sofriam palpitações de ansiedade. Quando chegava um desses comentários, pressionavam-nos a discutir a questão. Nos reuníamos e decidíamos se tínhamos que fazer autocrítica ou se era preciso adotar outra medida disciplinar.

O meu destino, isto é, a minha demissão como um dos principais redatores do jornal foi traçada quando acumulei um bom número desses "comentários de notícias". Um artigo polêmico foi a gota que fez transbordar o copo, e assim chegou a minha vez de sair para não voltar. No passado, o Semanário do Sul gozava da proteção da direção do partido da província de Guangdong, mas durante os anos em que trabalhei na redação, a situação foi piorando progressivamente.

A censura prévia sai da jaula
Como assinalou Cheng Yizhong, em finais do mandato de Jiang Zemin, as ordens e proibições do Departamento de Propaganda chegavam clandestinamente: deixaram de ser emitidas por escrito. A partir de 2005, estreitaram-se os controles. Depois da criação, no começo da década de 1990, do Grupo de Comentários de Notícias, o Departamento Central de Propaganda estabeleceu um "sistema de revisão de conteúdos", incorporando os seus "revisores" (shenduyuan) nas redações dos veículos considerados estratégicos. Estes revisores praticariam a censura prévia do conteúdo. Ao mesmo tempo, uma série de funcionários de propaganda fiéis ao Partido foram nomeados redatores-chefes com a missão de tomar precauções estritas.

Tal como as coisas evoluíram, numa situação em que o mínimo deslize se confundia com um ato hostil, a atitude dos veículos considerados mais críticos pelos funcionários de propaganda era de maior temor. O Departamento Central de Propaganda tornou-se muito mais intervencionista, desenvolvendo o seu poder perante publicações como o Semanário do Sul. Zeng Li, o revisor destinado ao Semanário do Sul, revelou que desde maio de 2012, quando Tuo Zhen foi nomeado responsável pela Propaganda de Guangdong, o controle e a supervisão da imprensa da província atingiram proporções nunca vistas anteriormente. O tema de cada número do semanário devia ser comunicado ao departamento provincial de propaganda, e os editores não podiam trabalhar nele até que fosse aprovado.

Todas as reportagens importantes e os editoriais tinham que ser submetidos à revisão por parte do Departamento de Propaganda antes de poderem serem publicados. Inclusive houve um caso em que a notificação da exclusão de um artigo não chegou até ao jornal ter entrado na impressora, de maneira que foi preciso destruir centenas de milhares de exemplares impressos (outro companheiro do Semanário do Sul diz que em 2012 houve quatro casos de artigos que tinham sido censurados depois da edição ter entrado nas máquinas).

Os cinco cortes
De fato, o processo de edição do número especial de Ano Novo de 2013 do Semanário do Sul é um exemplo vivo da censura de notícias na China atual. No meio da tormenta, o Comitê de Ética Profissional do semanário publicou uma versão do processo interno em que apresenta uma imagem fiel da brutal intromissão da censura de notícias. Ao ter colaborado na edição de Ano Novo, compreendo como ela é importante para a imagem de marca do Semanário do Sul. Os leitores e leitoras esperam a edição com interesse, e o processo de elaboração é laborioso e preciso, especialmente quando tudo o que se faz é analisado à lupa.

Os preparativos para esta edição começaram no início de dezembro. O tema acordado no início era "atravessar o rio", em alusão, certamente, à famosa expressão de Deng Xiaoping sobre o processo de reforma como um ato de "atravessar o rio passando por cima das pedras". A redação comunicou o tema proposto ao redator-chefe do jornal, Huang Can, que respondeu em meados do mês assinalando que a edição se centraria na ideia "O sonho da China". Uma decisão para, acima de tudo, apaziguar os dirigentes do Departamento de Propaganda. A 23 de dezembro, a redação entregou a Huang Can um projeto escrito do número especial, e no dia seguinte o redator-chefe apresentou o plano à autoridade provincial de propaganda. Convém destacar que essa foi a primeira vez na história do jornal que a edição especial de Ano Novo se submeteu à censura prévia. Efetivamente, esta censura prévia do Semanário do Sul comportou o que denominamos os "cinco cortes", a saber:

Primeiro corte: Muitos dos temas propostos foram recusados. A 26 de dezembro chegou a primeira indicação do departamento provincial de propaganda, referente à seção "gente". Tinha que se eliminar muitos perfis que se tinham planejado sob certas pessoas.

Segundo corte: A Saudação de Ano Novo da edição especial foi entregue duas vezes às autoridades de propaganda para revisão. O título original da saudação do Semanário do Sul era "O sonho da China, o sonho do constitucionalismo". Huang Can não estava contente com o editorial, de modo que introduziu mudanças e depois remeteu-o às autoridades. O ato seguinte foi a ordem dada ao jornal para que elaborasse outro projeto, que voltou a ser submetido a revisão. O projeto apresentado a 31 de dezembro ficou reduzido a mil palavras, e o título era "Estamos mais perto que nunca do nosso sonho".

Terceiro corte: Praticaram-se importantes cortes no conteúdo das páginas interiores. Na noite de 31 de dezembro, quando já se terminava a produção do número especial, Huang Can transmitiu novas indicações do departamento de propaganda para os editores do jornal. Foi eliminada uma página inteira. Mais tarde chegou outra ordem de suprimir mais dois artigos. Os editores não tiveram outro remédio que trabalhar mais duas horas para deixar pronta a edição.

Quarto corte: Houve uma tentativa de substituir toda a manchete do número especial. Quando os editores estavam a maquetar a página, Huang Can tirou uma foto da manchete com o seu celular e enviou-a ao departamento de propaganda. Nas primeiras horas de 1º de janeiro de 2013, Huang Can informou de repente aos editores sobre a última "opinião" da autoridade de propaganda. Esta considerava que a ilustração da manchete sobre a história de "Yu, o Grande, domando as águas" era demasiado escura e podia ser mal interpretada, disseram. Tinha que ser substituída pela fotografia de um porta-aviões. Além disso, na manchete não deviam figurar as palavras "O sonho da China, um sonho vislumbrado através da adversidade". Ao conhecer estas instruções, o estado de ânimo dos editores afundou-se. A hora limite para aprovar as provas de imprensa tinha passado há muito e era praticamente impossível introduzir mudanças substanciais. Após algum debate, acordaram em manter a ilustração e mudar o título para "Os sonhos da pátria".

Quinto corte: Este foi o último corte e o mais grave, e deu-se após a conclusão todo o processo de produção. Cerca de três horas da madrugada do dia 1º de janeiro, quando o trabalho tinha chegado ao fim, os editores responsáveis pelo número especial deram a aprovação às páginas. O subchefe de redação foi o último a assinar antes do envio das provas para impressão. Os editores desligaram então os seus celulares e foram para casa. Ao amanhecer, o chefe e o subchefe de redação foram convocados pelo departamento de propaganda, que lhes ordenou que introduzissem novas mudanças no jornal. O problema estava na manchete e na saudação anual. A autoridade provincial de propaganda disse que tinha que se incluir umas observações introdutórias na manchete. Estas palavras foram atribuídas ao chefe de propaganda de Guangdong, Tuo Zhen, quando o incidente chegou às redes sociais chinesas.

Partindo do que sabemos agora, tudo indica que as observações introdutórias foram ditadas de viva-voz pelo vice-ministro de Propaganda, Yang Jian, e transcritas pelo subchefe de redação antes de voltar a enviá-las por SMS para aprovação definitiva. A versão final destas observações foi reenviada então pela autoridade de propaganda para inclusão na publicação. Ainda não está claro quem exatamente deu o último toque ao texto, que continha alguns erros de vulto, como por exemplo ao referir o episódio histórico de Yu o Grande domando as águas e dizer que ocorreu há 2.000 anos. Na realidade, Yu o Grande viveu entre 2200 e 2100 a.C., ou seja, há mais de 4.000 anos.

Ainda insatisfeita, a autoridade também voltou a algumas passagens da saudação de Ano Novo (que, recordemos, já tinha sido censurada três vezes). Era preciso suprimir várias linhas e acrescentar cerca de 100 palavras novas. Uma vítima dessa versão final foi a última referência à palavra "constitucionalismo", a ideia chave do projeto original. Os novos itens da saudação incluíam frases tomadas diretamente do relatório político ao recente XVIII Congresso Nacional do Partido: "Confiamos na nossa teoria, confiamos no nosso rumo e confiamos no nosso sistema". Na noite de 1º de janeiro, a autoridade provincial de propaganda ordenou que se mudasse o título da edição especial pela expressão "Em busca de sonhos". Já que a equipa de edição estava fora de serviço, foram o chefe e o subchefe de redação quem tiveram que ir à gráfica para executar as últimas instruções.

Peço aos meus companheiros jornalistas chineses que me digam, após ler este relato, se alguma vez conheceram um processo de edição como este. Conheço perfeitamente os mecanismos de controle dos meios de comunicação na China, mas este caso parece-me incrível. Há algo que esta censura não toque? Não: os esboços de conteúdo, os temas gerais e concretos, os rascunhos, as fotos, tudo, absolutamente tudo tem de estar ao serviço dos objetivos do Departamento de Propaganda. E os jornalistas e editores do jornal são pouco mais que serventes que estão ali para receber ordens. O pessoal do Semanário do Sul teve de trabalhar até ao esgotamento, dia após dia, não para criar o melhor número possível do jornal, mas para satisfazer os obscuros caprichos dos funcionários do Departamento de Propaganda. Estes controles são como um pesadelo que continua dia após dia, mês após mês.

O Semanário do Sul é um produto comercial, ainda que, antes de tudo, seja um produto de tipo especial. É editado por uma empresa que opera comercialmente e cujo proprietário, em última instância, é o Partido Comunista da China. No entanto, a China conta já hoje com um "sistema empresarial moderno". Olhemos para as empresas estatais de hoje: podem os dirigentes do Partido manejar a seu desejo os diretores dessas empresas? Podem meter os narizes e mexer no seu funcionamento? Certamente que não. Mas estes sintomas crônicos da economia planificada continuam a estar muito vivos no sistema atual de comunicação e propaganda.

O primeiro "não"
O incidente do Semanário do Sul é importante, antes de tudo, porque dá a conhecer publicamente o que tem ocorrido nos bastidores. Ao longo de vários anos, o controle da mídia foi tornando muito mais rigoroso. Os métodos da censura prévia tem sido empregados descaradamente nos bastidores. Nos últimos anos, os leitores assíduos do semanário terão notado que este se tornou menos contundente e menos crítico, que não tratou muitos acontecimentos importantes. A proliferação do jargão oficial e do palavreado oco não terão passado despercebidos. Li Haipeng, antigo jornalista do Semanário do Sul, escreveu recentemente na rede social chinesa: "Comecei a trabalhar no Semanário do Sul em 2002 e fui embora em 2009. Vi com os meus próprios olhos que não houve nem um dia em que o jornal não tivesse que lutar sob um controle férreo. Era como uma árvore que perdia um ramo num dia e outro no dia seguinte..."

As leitoras e leitores do Semanário do Sul não podiam saber quanta verdade tinha ficado sepultada sob o peso da censura prévia, quantas faíscas tinham sido apagadas. Os jornalistas sofreram durante muito tempo, mas desta vez já não podiam aguentar. As suas reivindicações eram concretas: queriam que se anulasse a censura prévia e que os editores voltassem a ter autonomia. Talvez agora, após esta batalha contra a censura, os responsáveis pelo Departamento de Propaganda sejam mais cuidadosos. Mas o caminho para a liberdade de expressão, tal como está consagrada no artigo 35º da Constituição Chinesa, será longo. As ordens e proibições continuarão, e o castigo continuará à espera de quem pise fora da linha.

Mas podemos dizer que as coisas começaram a se mexer. Pela primeira vez, a palavra "Não" soou no sistema de meios de comunicação da China. O jogo de interesses contrapostos que temos visto nesta semana não tem paralelo no passado. A minha esperança é que os dirigentes da China tenham a sabedoria de distinguir entre os que desejam e apoiam uma nova abordagem do governo e aqueles cujos atos vergonhosos não geram mais do que raiva e desconfiança. Chegou o momento dos meios de comunicação gozarem de mais tolerância. Chegou o momento de haver mais respeito aos direitos das pessoas. Em matéria de reforma política, já não podemos esperar mais tempo.

*Artigo de Qian Gang, publicado no China Media Project em 11 de janeiro de 2013, traduzido para espanhol por Viento Sur. Tradução de Carlos Santos para esquerda.netwww.esquerda.net

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Questões do ciberespaço: um território a defender

Confira a íntegra da portaria que define a Política Cibernética de Defesa

Da redação de ARede


09/01/2013 - O Ministério da Defesa publicou no Diário Oficial da União, dia 27 de dezembro, a portaria que define a política nacional de defesa cibernética e como o Brasil atuará em situações de ciberguerra.
Pela Portaria Normativa 3389/MD, a nova política já está em vigor, e prevê a criação do Sistema Militar de Defesa Cibernética (SMDC), que seria formado por representantes das Forças Armadas e da sociedade civil.
O órgão terá como prerrogativa, além de criar a infraestrutura de gestão da ações militares brasileiras no ciberespaço, fazer parcerias com setores acadêmicos e incentivar a pesquisa na área de segurança cibernetica.
Deverá, também, manter relacionamento estreito com outros órgãos do governo federal, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, para criação de programas que contemplem o setor industrial no desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação. Confira a íntegra:

POLÍTICA CIBERNÉTICA DE DEFESA

CAPÍTULO I
DA INTRODUÇÃO
1.1. Finalidade
A Política Cibernética de Defesa tem a finalidade de orientar, no âmbito do Ministério da Defesa (MD), as atividades de Defesa Cibernética, no nível estratégico, e de Guerra Cibernética, nos níveis operacional e tático, visando à consecução dos seus objetivos.

1.2. Aplicação
A Política Cibernética de Defesa aplica-se a todos os componentes da expressão militar do Poder Nacional, bem como às entidades que venham a participar de atividades de Defesa ou de Guerra
Cibernética.

1.3. Pressupostos Básicos
A definição dos objetivos e a determinação das diretrizes da Política Cibernética de Defesa obedecem aos seguintes pressupostos básicos:

a) a eficácia das ações de Defesa Cibernética depende, fundamentalmente, da atuação colaborativa da sociedade brasileira, incluindo, não apenas o MD, mas também a comunidade acadêmica, os setores público e privado e a base industrial de defesa;

b) as atividades de Defesa Cibernética no MD são orientadas para atender às necessidades da Defesa Nacional;

c) as ações cibernéticas de caráter ofensivo deverão estar em conformidade com o planejamento elaborado em atendimento às Hipóteses de Emprego (HE);

d) a capacitação tecnológica do Setor Cibernético deve ser buscada de maneira harmônica com a Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional (C,T&I);

e) a eficácia das ações de Defesa Cibernética no MD depende diretamente do grau de conscientização alcançado junto às organizações e pessoas acerca do valor da informação que detêm ou processam;

f) a Segurança da Informação e Comunicações (SIC) é a base da Defesa Cibernética e depende diretamente das ações individuais; não há Defesa Cibernética sem ações de SIC; e
g) as ações cibernéticas no contexto do MD visam a assegurar o uso do espaço cibernético, impedindo ou dificultando seu uso contra os interesses do País e garantindo, dessa forma, a liberdade de ação.

CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS

2.1. Objetivos
São objetivos da Política Cibernética de Defesa:

a) assegurar, de forma conjunta, o uso efetivo do espaço cibernético (preparo e emprego operacional) pelas Forças Armadas (FA) e impedir ou dificultar sua utilização contra interesses da Defesa Nacional;

b) capacitar e gerir talentos humanos necessários à condução das atividades do Setor Cibernético (St Ciber) no âmbito do MD;

c) colaborar com a produção do conhecimento de Inteligência, oriundo da fonte cibernética, de interesse para o Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE) e para os órgãos de governo envolvidos com a SIC e Segurança Cibernética, em especial o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR);

d) desenvolver e manter atualizada a doutrina de emprego do St. Ciber;

e) implementar medidas que contribuam para a Gestão da SIC no âmbito do MD;

f) adequar as estruturas de C,T&I das três Forças e implementar atividades de pesquisa e desenvolvimento para atender às necessidades do St Ciber;

g) definir os princípios básicos que norteiem a criação de legislação e normas específicas para o emprego no St Ciber;

h) cooperar com o esforço de mobilização nacional e militar para assegurar a capacidade operacional e, em consequência, a capacidade dissuasória do St Ciber; e

i) contribuir para a segurança dos ativos de informação da Administração Pública Federal (APF), no que se refere à Segurança Cibernética, situados fora do âmbito do MD.

CAPÍTULO III
DAS DIRETRIZES

3.1. Definição
As diretrizes explicitam as atividades a serem implementadas pelo MD para alcançar os objetivos constantes da Política Cibernética de Defesa.

3.2. Diretrizes

3.2.1. Diretrizes atinentes ao Objetivo No I - assegurar, de forma conjunta, o uso efetivo do espaço cibernético (preparo e emprego operacional) pelas Forças Armadas (FA) e impedir ou dificultar
sua utilização contra interesses da Defesa Nacional:

a) conceber e implantar o Sistema Militar de Defesa Cibernética (SMDC), contando com a participação de militares das FA e civis;

b) criar a estrutura para realizar a coordenação e a integração do St Ciber no âmbito do MD, como órgão central do SMDC, com a possibilidade de participação de militares das FA e civis;

c) levantar as infraestruturas críticas de informação associadas ao St Ciber para contribuir com a formação da consciência situacional necessária às atividades de Defesa Cibernética;

d) estabelecer critérios de risco, inerentes aos ativos de informação, e realizar o seu gerenciamento, reduzindo os riscos às infraestruturas críticas da informação de interesse da Defesa Nacional a níveis aceitáveis;

e) criar e normatizar processos de Segurança Cibernética para padronizar procedimentos de acreditação no âmbito das infraes truturas críticas de informação de interesse da Defesa Nacional; e

f) estabelecer programas/projetos a fim de assegurar a capacidade de atuar em rede com segurança, fortalecendo, dessa forma, a operacionalidade da atividade de Comando e Controle (C2) no MD.

3.2.2. Diretrizes atinentes ao Objetivo No II - capacitar e gerir talentos humanos necessários à condução das atividades do St Ciber no âmbito do MD:

a) definir os perfis do pessoal necessário para a condução das atividades do St Ciber;

b) criar cargos e funções específicos e mobiliá-los com pessoal especializado para atender às necessidades do St Ciber;

c) estabelecer critérios e controlar a mobilização e desmobilização de pessoal para a atividade de Defesa Cibernética;

d) identificar, cadastrar e selecionar o pessoal com competências ou habilidades, existente nos ambientes interno e externo das FA, para integrar o SMDC;

e) capacitar, de forma continuada, pessoal para atuar no St Ciber, sob a orientação do órgão central do SMDC, aproveitando estruturas existentes;

f) viabilizar a participação de pessoal envolvido com o St Ciber em cursos, estágios, congressos, seminários, simpósios e outras atividades similares relacionadas no Brasil e no exterior;

g) realizar, periodicamente, eventos que possibilitem a apresentação e discussão de temas relevantes em áreas de interesse do Setor Cibernético, a serem organizados e conduzidos pelo órgão central do SMDC, para nivelamento e atualização do conhecimento;

h) criar instrumentos para viabilizar e motivar a permanência do pessoal especializado nas atividades do St Ciber, permitindo a continuidade da atividade;

i) realizar parcerias estratégicas e intercâmbio entre as FA e instituições de interesse; e

j) incluir o conteúdo Defesa Cibernética nos currículos dos cursos, em todos os níveis, no que couber, dos estabelecimentos de ensino do MD.

3.2.3. Diretrizes atinentes ao Objetivo No III - colaborar com a produção do conhecimento de Inteligência, oriundo da fonte cibernética, de interesse para o SINDE e para os órgãos de governo
envolvidos com a SIC e Segurança Cibernética, em especial o GSI/PR:

a) adequar a doutrina de Inteligência de modo a inserir a fonte cibernética no contexto da integração de fontes de dados visando à produção de conhecimento;

b) criar estruturas de Inteligência Cibernética, conforme a necessidade dos órgãos centrais de Inteligência das FA e do SMDC, para aplicar métodos científicos e sistemáticos, buscando extrair e analisar dados oriundos da fonte cibernética, produzindo conhecimento de interesse;

c) estabelecer um canal sistêmico/técnico entre o órgão central do SMDC e os órgãos centrais de Inteligência das FA, no âmbito do SINDE, no tocante ao St Ciber; e

d) levantar as infraestruturas críticas de informação associadas às ameaças internas e externas, reais ou potenciais, para contribuir com a formação da consciência situacional necessária às atividades de inteligência.

3.2.4. Diretrizes atinentes ao Objetivo No IV - desenvolver e manter atualizada a doutrina de emprego do St Ciber:

a) criar a doutrina de Defesa Cibernética mediante proposta do órgão central do SMDC;

b) fomentar o desenvolvimento e o intercâmbio de teses, dissertações e outros trabalhos similares, com enfoque doutrinário, em instituições de ensino superior civis e militares de interesse para as atividades do St Ciber;

c) promover intercâmbio doutrinário, normativo e técnico, com instituições civis e militares, nacionais e de nações amigas;

d) inserir a Defesa Cibernética nos exercícios de simulação de combate e nas operações conjuntas;

e) criar um sistema de gestão de conhecimento de lições aprendidas para composição e atualização da doutrina; e

f) designar o órgão central do SMDC como responsável por propor as inovações e atualizações de doutrina para o St Ciber no âmbito da Defesa.

3.2.5. Diretrizes atinentes ao Objetivo No V - implementar medidas que contribuam para a Gestão da SIC no âmbito do MD:

a) implementar metodologia de Gestão de SIC na Defesa, levando em conta a legislação e normas vigentes, as melhores práticas, a Doutrina de Inteligência de Defesa e padrões internacionais de interesse;

b) implementar uma infraestrutura de chaves públicas da Defesa (ICP Defesa);

c) determinar padrões interoperáveis de criptografia de Defesa em complemento aos das FA; e

d) implementar a sistemática de auditoria de SIC na Defesa.

3.2.6. Diretrizes atinentes ao Objetivo No VI - adequar as estruturas de C,T&I das três Forças e implementar atividades de pesquisa e desenvolvimento para atender às necessidades do St Ciber:

a) planejar e executar a adequação das estruturas de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), integrando esforços entre as FA para atender às necessidades do St Ciber;

b) criar comitê permanente, no âmbito da Defesa, constituído por representantes do MD e convidados, de outros ministérios e de agências de fomento, para intensificar e explorar novas oportunidades de cooperação em C,T&I, nas áreas de interesse do St Ciber;

c) prospectar as necessidades do St Ciber, na área de C,T&I, no âmbito da Defesa, para identificar as capacidades científico-tecnológicas necessárias ao desenvolvimento do Setor;

d) identificar competências (individuais e organizacionais) específicas em C,T&I, de interesse do St Ciber, no âmbito do MD e dos centros de pesquisa e desenvolvimento civis (públicos e privados), estabelecendo parcerias entre centros de excelência, em nível nacional, para agregar as instituições e evitar a dispersão de recursos;

e) criar parcerias e cooperação entre os centros militares de pesquisa e desenvolvimento e os centros de pesquisa e desenvolvimento civis (públicos e privados), para estimular a integração das iniciativas de interesse do St Ciber; e

f) criar programas, no âmbito do MD, em parceria com o MCTI, que contemplem a característica dual (emprego civil e militar) das tecnologias de informação e comunicações (TIC) empregadas na área cibernética, para fortalecer o envolvimento do setor industrial nas fases de desenvolvimento dos projetos de interesse do St Ciber.

3.2.7. Diretrizes atinentes ao Objetivo No VII - definir os princípios básicos que norteiem a criação de legislação e normas específicas para o emprego no St Ciber:

a) colaborar com o órgão da Presidência da República (PR) encarregado da elaboração da Política Nacional de Segurança Cibernética;

b) manter atualizada a Política Cibernética de Defesa em consonância com a Política Nacional de Segurança Cibernética, quando da sua existência;

c) definir atribuições e responsabilidades para o exercício das atividades relacionadas à Defesa Cibernética;

d) elaborar propostas de criação e adequação de legislação federal, a fim de amparar as atividades de Defesa Cibernética;

e) propor criação de programa orçamentário para viabilizar as ações e atividades do St Ciber;

f) revisar os planejamentos das Hipóteses de Emprego (HE) para considerar as ações no espaço cibernético; e

g) propor a adequação da Lei de Mobilização Nacional e do Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB) para torná-los compatíveis com as necessidades do St Ciber.

3.2.8. Diretrizes atinentes ao Objetivo No VIII - cooperar com o esforço de mobilização nacional e militar para assegurar a capacidade operacional e, em consequência, a capacidade dissuasória
do St Ciber:

a) realizar levantamento sistemático de ativos de informação passíveis de serem mobilizados em prol do St Ciber;

b) elaborar e manter atualizado um banco de ativos de informação, de interesse para a mobilização, em prol do SMDC;

c) elaborar Planos de Mobilização de Ativos de Informação, com respectivos custos, em consonância com a Lei de Mobilização Nacional;

d) adequar as necessidades de mobilização do SMDC ao SINAMOB; e

e) propor, ao governo federal, a realização de campanha nacional de educação sobre Defesa Cibernética, visando à Mobilização Nacional, para elevar o nível de conscientização da sociedade brasileira.

3.2.9. Diretrizes atinentes ao Objetivo No IX - contribuir para a segurança dos ativos de informação da APF, no que se refere à Segurança Cibernética, situados fora do âmbito do MD:

a) conhecer, por intermédio da PR, as infraestruturas críticas da informação dos órgãos da APF situados fora do MD;

b) colaborar, dentro dos limites da legislação em vigor, com os demais órgãos da APF, mediante solicitação e por intermédio da PR, para o restabelecimento da Segurança Cibernética;
c) manter um banco de dados e estabelecer um canal sistêmico/técnico entre o órgão central do SMDC e os órgãos da APF, para compartilhamento de informações de incidentes de rede; e
d) atuar no reconhecimento de artefatos e desenvolvimento de ferramentas cibernéticas, em conjunto com a PR, contribuindo para a proteção dos ativos de informação da APF.

CAPÍTULO IV
DAS RESPONSABILIDADES E DA ATUALIZAÇÃO
4.1. Responsabilidades
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) é o órgão responsável por assessorar o Ministro de Estado da Defesa na implementação e gestão do SMDC, visando a garantir, no âmbito da Defesa, a capacidade de atuação em rede, a interoperabilidade dos sistemas e a obtenção dos níveis de segurança desejados.
4.2. Atualização
Esta Política deve ser revisada e atualizada periodicamente pelo MD, por intermédio do EMCFA, por iniciativa própria ou por proposta de uma das Forças Armadas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mídia impressa, mídia eletrônica...

Internacional| 09/01/2013 | Copyleft

Mídias que morrem e o futuro da imprensa

No final de 2012, ocorreram dois fatos de extraordinária significação, ainda não analisados em profundidade, sobre o mundo dos meios de comunicação. Uma das mais famosas revistas estadunidenses, Newsweek, que estava a ponto de completar 80 anos, deixou de circular depois de perdas anuais estimadas em 30 milhões de dólares. O segundo foi a desaparição do The Daily menos de dois anos depois de seu lançamento como o primeiro grande jornal desenhado exclusivamente para iPad. Os dois fatos lançam novas dúvidas sobre o futuro da imprensa escrita. O artigo é de Eleazar Días Rangel.




Caracas - No final de 2012, ocorreram dois fatos de extraordinária significação, ainda não analisados em profundidade, sobre o mundo dos meios de comunicação. Uma das mais famosas revistas estadunidenses, Newsweek, que estava a ponto de completar 80 anos, deixou de circular depois de perdas anuais estimadas em 30 milhões de dólares, e uma queda na tiragem que nos anos 80 era de quatro milhões e chegou a 1,4 milhões há dois anos.

Esse fechamento é outra expressão da crise midiática nos EUA, onde em cinco anos 145 jornais diários fecharam e só 14 passaram a existir na internet. A Comissão Federal de Comunicação (FCC) revelou que 35 mil postos de trabalho deixaram de existir, 18 milhões de leitores abandonaram a imprensa e, entre 2005 e 2010, as perdas ultrapassaram a casa dos 23 bilhões de dólares.

Os editores da Newsweek começaram a buscar soluções quando perceberam a crise que se avizinhava, mudaram sua linha editorial para torná-la mais acessível ao chamado grande público, “com capas e conteúdos cada vez mais apelativos e superficiais”, o que afetou sua qualidade sem ganhar leitores. Agora, em janeiro, poderão ler Newsweek Global on line, mediante pagamento pelo serviço, com pessoal reduzido e sem colocar em risco a qualidade do jornalismo, asseguram seus editores.

“Alguns jornalistas e especialistas em mídias e comunicação são céticos quanto ao futuro dessa marca e de muitas outras empresas de comunicação, apanhadas em uma combinação letal de um modelo de negócios que não se sustenta e outro que não mostra ainda um caminho claro para a sobrevivência”, segundo resume uma investigação de Antonio Caño, correspondente do El País, em Washington.

O fim desta revista confirma a hipótese de um estudo de uma universidade dos EUA – creio que da Pensilvânia -, segundo a qual em um dia de outubro de 2040 circulará o último exemplar de um diário impresso neste país?

Crescem as informações sobre as sérias dificuldades da imprensa em um número cada vez maior de países, e não necessariamente vinculados à grave situação da economia europeia. Milhares de jornalistas ficaram desempregados, As crises do El País e do El Mundo, da Espanha, são um bom exemplo do que ocorreu em muitos outros meios de comunicação. No entanto, Walter Buffet, terceiro na lista dos multimilionários do mundo, com mais de 50 bilhões de dólares, está comprando publicações como se soubesse que algo bom está por acontecer, mas ninguém sabe a verdade dessas compras, se é que não são uma maneira de colocar dinheiro em um saco furado.

A outra morte
Vejamos o outro fato significativo. A notícia foi divulgada pela Agência EFE, desde Nova York: a desaparição do jornal The Daily “menos de dois anos depois de seu lançamento como o primeiro grande jornal desenhado exclusivamente para iPad coloca novas dúvidas sobre o futuro da imprensa escrita”.

O mesmo despacho explica que o fracasso dessa experiência “é simplesmente uma lembrança de que no mundo digital pós-impresso, o poder passou dos editores aos consumidores”. Segundo o editor chefe do portal especializado Mashable, Lance Ulanoff, os leitores de notícias na internet criam seus próprios jornais com base em leituras de diferentes diários em múltiplas plataformas, razão pela qual o pecado original deste periódico foi precisamente estar disponível somente para o iPad durante seu primeiro ano de vida, e mesmo tendo ampliado depois esse espectro, não teve audiência suficiente para converter-se em um negócio sustentável no longo prazo, reconheceu Rupert Murdoch, quando anunciou seu fechamento. The Daily alcançou 100 mil assinantes, mas precisava do dobro para estabilizar-se.

A nota da agência EFE conclui: “Seja qual for a razão da rápida desaparição do The Dialy, ela evidencia as dificuldades que enfrentam os meios de comunicação para encontrar novas vias para se tornarem rentáveis e complica o nascimento de outras iniciativas que busquem delinear o caminho para o qual deve se dirigir a imprensa escrita”.

No caso da Venezuela, Últimas Notícias conserva sua alta circulação e credibilidade, enquanto vários jornais da América Latina desapareceram (o último foi La Nación, do Chile), e a maioria viu sua circulação diminuir, como é o caso de El Tiempo, de Bogotá, e Clarín, de Buenos Aires, que passou de 400 mil exemplares em 2007 para menos de 300 mil em 2011, e sua edição dominical passou de 800 mil para 600 mil, segundo o Instituto de Verificação de Circulação (IVC).

Não obstante essa circunstância que o converte no jornal mais lido na Venezuela, os proprietários da Cadeia Capriles instalaram em suas novas edificações uma redação unificada com as três marcas, o portal, suas redes sociais, com as mais altsa tecnologias, que revelam como olham o futuro sem abandonar o presente dos meios impressos. O vice-presidente da cadeia, Ricardo Castellanos, diz que “foi colocado aos diretores e a toda a equipe de jornalistas desta redação única o enorme desafio da transformação para que em poucos anos ela seja uma empresa de multimeios e multiplataforma capaz de enfrentar com êxito e viabilidade econômica a mudança de paradigmas que hoje vive a indústria”.

Em última instância, serão os leitores e anunciantes os fatores fundamentais de seu crescimento e do futuro das mudanças que surgem no horizonte.

(*) Jornalista venezuelano. Atualmente dirige o jornal Últimas Notícias, da Venezuela, que possui a maior circulação nacional.

Tradução: Katarina Peixoto (do Boletim Carta Maior)