sexta-feira, 15 de março de 2013

O "progresso", afinal, o que é?


Inovação a partir da obsolescência

15/03/2013
Por Heitor Shimizu
James Wallbank, fundador do Access Space, fala sobre iniciativa inglesa de transformação social por meio do domínio da tecnologia, que vai da reutilização de computadores à produção de novidades digitais (divulgação)

Agência FAPESP – Criar oportunidades de transformações econômicas e sociais por meio do uso (e reúso) da tecnologia é o objetivo do Access Space, centro de aprendizagem eletrônica em Sheffield, localizado no terceiro distrito mais populoso na Inglaterra.

Conhecida como “cidade do aço”, Sheffield foi seriamente afetada pela crise econômica atual, chegando a uma taxa de desemprego acima dos 10%. Ao mesmo tempo, na última década se agravou o problema do acúmulo de lixo eletrônico, com a rápida obsolescência dos computadores e outros dispositivos digitais.

Esse cenário levou o artista plástico James Wallbank e amigos a criar o Access Space, em 2000. “O centro começou com a união entre a fartura de computadores velhos e a escassez de oportunidades de trabalho e de desenvolvimento profissional na região. A proposta era conseguir uma resposta radical e sustentável a problemas como o declínio industrial e o deslocamento social”, disse Wallbank.
O fundador e diretor do Access Space esteve no início de fevereiro em São Paulo, quando falou com a Agência FAPESP.

O Access Space tem apenas seis funcionários fixos, mas dezenas de voluntários e cerca de 12 mil frequentadores por ano. “Somos um ‘fab lab’, um laboratório comunitário para fabricação digital que visa ao desenvolvimento social e ao empreendedorismo”, disse Wallbank.

A proposta não é competir com a grande indústria ou a produção em massa, mas permitir que as pessoas possam criar seus próprios produtos, adaptados a usos específicos e particulares, que não seriam considerados economicamente viáveis pelos fabricantes tradicionais. O conceito de “fab lab” se originou no Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

“Começamos por meio da reutilização de computadores quebrados ou considerados obsoletos e sem valor. Reformávamos as máquinas e, principalmente, fazíamos adaptações de modo que elas pudessem não apenas voltar a funcionar, mas ser empregadas no desenvolvimento de inovações digitais e na capacitação de pessoas”, disse Wallbank.

Os computadores eram formatados para que passassem a rodar Linux, um sistema operacional gratuito e colaborativo, e a contar com softwares também gratuitos e com códigos abertos.
“O Access Space nunca gastou dinheiro em hardware ou software e o modelo inspirou projetos em diversos países na Europa e no Brasil”, disse Wallbank. No Brasil, a iniciativa mais conhecida é a MetaReciclagem, criada em 2002 e ganhadora do Prêmio Ponto de Mídia Livre do Ministério da Cultura, em 2009, que tem como lema a “desconstrução da tecnologia para a transformação social”.

Segundo Wallbank, o Access Space é um laboratório digital livre aberto a todas as pessoas que queiram conduzir seus projetos técnicos e criativos e que possam contribuir com a formação e manutenção de uma comunidade de usuários. “Pessoas que ontem foram treinadas hoje são desenvolvedores de inovação e ensinam os novos participantes”, disse.

“O Access Space mobiliza a comunidade para o desenvolvimento de novos modelos de transferência de tecnologia, crescimento pessoal e regeneração urbana, ao mesmo tempo em que defende relações mais sustentáveis, inclusivas e criativas com as tecnologias”, disse.

Em 2012, o Access Space se expandiu em uma nova unidade, com a abertura do Refabspace, o primeiro “fab lab” de Sheffield. O laboratório digital conta com computadores e diversos outros equipamentos como cortadora a laser, estações de solda, controladora computadorizada de máquinas e bordadeira digital.

“Estamos aprendendo a dominar e a desenvolver soluções em diversas tecnologias, como a impressão em 3D, com a qual podemos produzir peças plásticas em pequena quantidade”, disse Wallbank.

Mais informações: http://access-space.org

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