domingo, 30 de junho de 2013

O império em queda, o whistleblower em fuga

EUA ameaçam países que ajudarem Snowden

Fonte: ARede 

25/06/2013 - Em artigo publicado ontem no jornal La Jornada, David Brooks diz que "o homem mais procurado do mundo desapareceu como fumaça depois de voar de Hong Kong para Moscou, em um episódio em que vários países 'aliados' decidiram desobedecer às ordens de Washington e em que o grande aparato de espionagem estadunidense aparentemente não funcionou para evitar o que é, até o momento, a grande fuga de Edward Snowden.

De acordo com o jornal mexicano, além dos governos de Hong Kong, China, Russia e Equador, há indícios de que outros países poderiam se recusar a entregar Snowden - perseguido por revelar programas de espionagem de comunicações privadas de milhões de civis, dentro e fora dos Estados Unidos.

Em sua primeira referência ao assunto, diz o La Jornada, o presidente Barack Obama respondeu brevemente a perguntas durante uma reunião sobre a reforma migratória, afirmando que todos os canais legais estão sendo acionados e que os EUA estão trabalhando junto a vários países "para assegurar a aplicação da lei". De acordo com Brooks, o presidente estadunidense se referia a uma intensa pressão diplomática que tem sido frustrada a cada passo, e considerada por analistas e legisladores como "vergonhosa" e um revés para Obama.

A reportagem revela que o secretário de Estado John Kerry disse que Snowden é acusado de três atos graves de espionagem, e que a Rússia deveria entregá-lo aos EUA. Kerry mencionou possíveis "consequências" caso isso não aconteça. Sobre Hong Kong, o secretário afirmou que "seria profundamente preocupante se eles receberam notificaçáo adequada e decidiram ignorar, o que seria desrespeitar as normas".

Washington, conta o jornal mexicano, advertiu os países latinoamericanos que não permitam a passagem de Snowden. Fala-se que o aviso foi dirigido a Cuba, Venezuela e Equador. O chancelar do Equador, Ricardo Patiño, revelou que seu país está avaliando um pedido de asilo, o qual diz respeito a "liberdade de expressão e segurança de cidadãos ao redor do mundo". Patiño leu uma suposta declaração de Snowden, na qual comparava sua situação ao soldado Bradley Manning, que passou documentos secretos ao WikiLeaks e agora está diante de uma corte marcial acusado de "ajudar o inimigo".

Julian Assange, em uma teleconferência com veículos de comunicação, ontem, afirmou que Snowden "não é um traidor, não é um espião". É um "whistleblower" -- literalmente, alguém que sopra em um apito, referindo-se a pessoas que divulgam ao público informações sobre abusos ou violações de autoria de autoridades. O fundador do WikiLeaks confirmou que está dando apoio legal e financeiro a Snowden e que foi solicitado asilo a vários países, além do Equador. Funcionários da Islândia confirmaram que receberam o pedido formal, mas que o processo não pode ser iniciado sem que Snowden esteja no país.

Para o Equador, segundo analisa o La Jornada, oferecer refúgio a Snowden poderia gerar consequências econômicas, se Washington decidir modificar acordos comerciais com Quito. Na semana passada, Cuba e EUA negociavam o reinício do serviço postal direto e marcaram uma reunião sobre migração para meados de julho. Em relação à Venezuela, foi marcado um encontro entre o secretário de Estado Kerry e o chanceler Elías Jaua, para estudar o restabelecimento de representações diplomáticas e envio de embaixadores às respectivas capitais.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Pra pensar nas manifestações II


Movimentos Sociais| 26/06/2013 | Copyleft

Limites e contradições dos movimentos que estão nas ruas

Em entrevista à Carta Maior, Paolo Gerbaudo, pesquisador do Kings College e especialista em movimentos sociais, fala sobre as semelhanças e diferenças entre os protestos de rua que sacudiram países como Egito, Turquia, Espanha e Brasil. Gerbaudo aponta a força desses movimentos, mas também indica seus limites. "Há uma contradição entre o que se defende como parte de um movimento autônomo que rechaça o Estado, mas que, ao mesmo tempo, depende do Estado para a satisfação de suas demandas. Os movimentos podem ter um efeito autodestrutivo. É o que ocorreu em certa medida no Egito", adverte. Por Marcelo Justo, de Londres.

Londres - Os protestos que sacudiram os sistemas políticos de nações tão díspares como Egito e Brasil nos últimos três anos não provem da estrutura política tradicional, mas sim da rua, de uma tradição movimentista. Na Europa da austeridade, no Brasil de Dilma Rousseff, na Primavera Árabe e na Turquia pró-islâmica de Recep Tayyip Erdogan estes movimentos – chamem-se indignados, Movimento Passe Livre ou Occupy – têm traços organizativos similares, uma mescla de espontaneidade, demandas específicas e escassas consignas programáticas. Em entrevista à Carta Maior, Paolo Gerbaudo, pesquisador do Kings College, especialista em novos movimentos sociais, analisou as expectativas e os limites destes movimentos políticos e seu significado no caso particular do Brasil.

Você vê alguma semelhança entre o que ocorreu no Brasil e na Turquia e os movimentos sociais europeus como os indignados ou o movimento occupy?

Paolo Gerbaudo: Esses movimentos são, ao mesmo tempo, similares e diferentes. A diferença diz respeito ao meio social no qual ocorrem. Os movimentos no Brasil e na Turquia expressam diferentes realidades daquelas da Espanha e dos Estados Unidos. Não se pode postular uma tendência unilinear. Mas há semelhanças que podem ser vistas na maneira pela qual os manifestantes expressam seu protesto, nos símbolos que usam. A máscara do V de Vingança, como símbolo de certo anarquismo antiautoritário, é um exemplo. Ela pode ser vista nos protestos de Dubai, do Egito e em muitos outros lugares. Na capa de um jornal turco apareceu uma foto muito interessante durante as manifestações do Brasil. Na metade da capa, aparecia um manifestante com a máscara do V e a bandeira do Brasil. Na outra metade, havia um manifestante na Turquia com a mesma máscara e a bandeira turca.

Isso mostra outro elemento importante. Ao contrário dos movimentos antiglobalização estes movimentos são nacionais como se vê pela presença das bandeiras. Nos movimentos antiglobalização, há um forte elemento contracultural e de presença de minorias. Um postulado básico era a diversidade de táticas e pertencimentos: anarquistas, feministas, ecologistas eram parte de um movimento que se baseava na ideia de resistência em um momento no qual a maioria sentia que o sistema estava oferecendo coisas suficientes para se manter em conformidade com ele. Não é a situação agora, quando há um forte rechaço do neoliberalismo. Se alguém pergunta a alguém o que pensa dos bancos ou do sistema econômico, a resposta intuitiva, sem usar uma linguagem técnica, é quase unânime de indignação sobre a disfuncionalidade do sistema.

Mas, se na Europa dos anos 60 ou 70 tivesse ocorrido uma austeridade como a que ocorre agora, a resposta teria sido muito mais forte, quase uma situação pré-revolucionária. Uma coisa que surpreende no que está acontecendo é que tenha levado tanto tempo para ocorrer uma resposta. O que é que está faltando?

Paolo Gerbaudo: Estes movimentos não começam com uma identidade centrada em uma ideologia. São lugares de convergência que compartilham a sensação de ser vítima do sistema. Não é um movimento de minorias. Estive na Espanha e uma coisa que me impressionou muito foi que nas assembleias aparecia um especialista em computação dizendo “eu também estou indignado” e, ao seu lado, havia uma aposentada que tinha sofria uma forte redução em sua aposentadoria e que dizia o mesmo, ou seja, que ela também estava indignada. Este “também” é fundamental. Esses movimentos ainda estão lutando para ter uma visão coerente, que não se resuma à oposição de modo geral a tudo que está aí. As Assembleias Populares são uma tentativa de construir esta visão. Em um certo sentido são um passo fundamental, mas é preciso não se iludir, não é o caso de idolatrá-las. As assembleias não são uma solução, nem produzirão resultados. Na Assembleia, reúne-se gente que compartilha as mesmas demandas, mas que têm identidades políticas distintas. Os indignados estão se dividindo agora entre os que têm um perfil liberal-conservador, onde há até um membro da Opus Dei, e os que são autonomistas.

Na Argentina, hoje, pode-se ver um ciclo completo das Assembleias. No início da crise, em 2001-2002, foram muito importantes, mas depois, à medida que a economia se recuperou, foram se diluindo. Hoje são politicamente irrelevantes. Esse não é um problema de todos estes movimentos que dependem totalmente de uma crise?

Paolo Gerbaudo: Totalmente. As Assembleias são uma espécie de sonho anarquista de que é possível funcionar com um sistema de assembleias. Isso se viu na Argentina, na Grécia e na Espanha. Há um extraordinário entusiasmo quando o movimento começa com a ideia de que vão substituir os governos, mas isso não ocorre, em parte porque as assembleias requerem um gasto de energia extraordinariamente grande. Atribuem a Oscar Wilde uma frase que reflete isso: “o socialismo requer demasiadas reuniões nas noites de quarta”. As pessoas se encantam com as reuniões, mas elas acabam se tornando cansativas. As Assembleias são um meio, parte das ferramentas disponíveis para uma mudança. O perigo é acreditarmos que os meios são o importante. É o que diz um dos ideólogos do movimento Occupy Wall Street, David Graeber, o “importante são os meios corretos”. Isso é como dizer: não importa a ideologia, a visão de mundo, importa a democracia.

No entanto, há sinais de ideologia em todos estes movimentos. Em uma carta do movimento passe livre a Dilma Rousseff é dito que “o transporte deve ser público de verdade, acessível a todos, ou seja, um direito universal. Questionar a tarifa é questionar a própria lógica da política tarifária que submete o transporte ao lucro dos empresários e não à necessidade da população”. Essa carta também sustenta que este critério deveria ser aplicado não só ao transporte, mas sim à saúde, à educação, etc. Isso parece uma semente de ideologia.

Paolo Gerbaudo: Exatamente. Mas tem uma limitação. Não apontam um caminho. Por que? Porque recusam que o Estado é o caminho para a resolução do problema. A quem estamos fazendo esta demanda? Ao Estado. No caso do Brasil, isso é claro. Há uma contradição entre o que se defende como parte de um movimento autônomo que rechaça o Estado, mas que, ao mesmo tempo, depende do Estado para a satisfação de suas demandas. Mas, sim, há uma semente de uma ideologia baseada nos direitos sociais, baseada em visões de gente do povo, uma ideologia que põe a ênfase no direito ao espaço cidadão. É uma série de demandas que refletem a estrutura social no movimento, a precária classe média que quer hospitais, espaços públicos, parques, educação, transporte.

No Brasil os cinco pactos propostos por Dilma a governadores e prefeitos se centram nesses pontos: saúde, educação, transporte, reforma fiscal e reforma política. Você acredita que isso pode colocar um fim à crise?

Paolo Gerbaudo: Não sei. Esses movimentos estão criticando o sistema de partidos políticos. Não sei se a cooptação seletiva será suficiente para desarmar estes movimentos. Pode ser. Estas concessões podem pacificar certos setores do movimento. Mas ao mesmo tempo é provável que criem novos partidos que tentem integrar estes elementos.

No Brasil há um paradoxo. Os protestos ocorrem com um governo popular que aumentou as políticas sociais em um país com pleno emprego. Não se dá a crise europeia da austeridade.

Paolo Gerbaudo: Há uma maneira de entender esses protestos que é pensar que se alimentam da privação. Neste caso a lógica seria quanto mais fome mais protestos. Mas pode ocorrer também a lógica inversa. Quanto mais direitos alguém consegue, mais quer. No Brasil, a situação hoje é muito melhor. Mas como diz Rodrigo Nunes, em um artigo na Al Jazeera, há que diferenciar entre crescimento quantitativo e qualitativo. Ganha-se mais, mas os serviços são piores. Não estive no Brasil, mas muita gente me falou que a infraestrutura de transporte e o sistema de saúde são terríveis. Tudo isso afeta a qualidade de vida em um momento no qual o país parecia ir muito bem. Isso ocorre também na Turquia. Pode haver muito desenvolvimento, mas a resposta da população é que não se trata simplesmente de aumentar um critério abstrato de medição como é o PIB, mas sim de viver melhor.

Nestes episódios a reação dos governos e da polícia parece cumprir um papel disparador e aglutinador. Isso é uma parte essencial na aparição de movimentos como estes que, da noite para o dia, passam a dominar toda a agenda política?

Paolo Gerbaudo: Em princípio o que os une é o Estado. No Egito, o que uniu todo o mundo foi a polícia. Todo mundo odeia a polícia. A reação da polícia representa que só há a vara: não há a cenoura. E o Estado está representado na polícia. Não é a polícia usada para manter uma ordem social justa, mas sim a polícia que serve para a injustiça social, um ímã que unifica todo mundo.

Uma coisa que estes movimentos trazem à superfície é o problema da representação política. Estes movimentos sociais são uma crítica implícita ou explícita aos partidos políticos tradicionais.

Paolo Gerbaudo: Os partidos sempre existiram. Nos tempos de Roma, existia o partido popular e o dos patrícios. Hoje se criticam os partidos políticos, mas a realidade é que eles têm uma base massiva. Mesmo em um país tão apolítico como o Reino Unido, os conservadores têm cerca de três milhões de membros. Isso significa que esses partidos têm certa legitimidade. Inclino-me pela tese de Gramsci, que defende a convivência de movimentos e partidos.

Os movimentos podem ter um efeito autodestrutivo. É o que ocorreu em certa medida no Egito, onde os movimentos rejeitaram toda organização e estrutura e o resultado foi que abriram a porta para a vitória da Irmandade Muçulmana que hoje governa o país com resultados desastrosos. Quanto ao modelo de partido leninista, creio que o desafio é ver como nos movermos para novas formas de representatividade política que consigam ir além do centralismo democrático.

Não se trata simplesmente de uma discussão intelectual. Vê-se isso claramente no movimento na Itália, onde se coloca a criação de novas formas de participação democrática por meio da internet. Tudo isso é bastante problemático porque o movimento tem um terrível paradoxo entre ser participativo e ter um líder paternalista como Beppe Grillo que decide quem está no movimento. É algo que o Partido do Futuro, nascido do movimento dos indignados, está tentando responder na Espanha. Como vamos usar a internet e os meios de comunicação para reconstruir formas de participação que não são possíveis hoje com os partidos?

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

terça-feira, 25 de junho de 2013

Tecnologia, inovação e política (ou o que esta mascarado)


Mesh networking and dirigibles have been around for decades. What truly makes Project Loon a difficult — if not impossible — undertaking is getting the world’s governments to agree to it.
The balloon-powered network known as Loon may be one of Google’s famed moon shots, but the biggest issues facing the project are grounded right here on Earth. This won’t just be a major technological feat for Google. It will be a huge political undertaking. I give Google credit: it’s never shied away from a challenge. But if Loon is going to be a success, it’s going to have to wade deeply into the morass of global international relations.
I say this because Loon is no ordinary network – and I’m not referring to the balloons. Google wants to build a network that knows no borders. Not only does Google want to implement it in every country with an underserved internet population, but the network itself will be stateless, coasting from continent to continent.
Project Loon
Loon would basically become an internet service provider above the clouds. Terrestrial radios on the ground would link to solar-powered balloons floating 12 miles up in the stratosphere. These balloons would link to each other to form a mesh network, bouncing signals off one another until they reach a ground-based station with a fiber connection to the internet. Google will have some control over where these balloons go by navigating the wind currents, but as Google shows in its Loon videos, its eventual plan is to set them loose in the sky, letting them follow the west-east stratospheric winds around the world.
“If the balloons are circling over the bottom half of the world, eventually the balloon that’s over South Africa will pass over South America,” Google captain of moonshotsAstro Teller explained in one such video.
Old Globe
Well, Iran happens to be at the same latitude as Texas. The samenetwork infrastructure floating over the U.S. will make its way above Middle Eastern countries with which the U.S. isn’t exactly on the best terms. I’m not saying that’s a bad thing. The internet should transcend international boundaries, and it does more to help international relations than it does harm. But I doubt every world leader will see that way.
Since Loon will use radios, it will have to use spectrum, which is tightly regulated by the world’s governments. It can’t just use any old spectrum either. It will have to convince hundreds of different regulators to agree on a unified band or ride over an existing one – such as the unlicensed airwaves used for Wi-Fi. But the scope and range of Google’s Loon network will likely require dedicated airwaves. Just imagine a Wi-Fi network blasting down at high-power from the heavens. If your wireless router is using the same airwaves, it will be drowned out.
And we’re not talking about a scenario as simple as Wi-Fi, where airwaves are ultimately shared by multiple entities. We’re talking about Google becoming a global ISP, actually providing or selling internet service. ISPs, like any communications service provider, are regulated, and governments will likely want some say in how that access is offered, what Google can charge, and ultimately whom Google is allowed to connect.

Go, go Google

I’m sure Google has weighed all of these potential obstacles, and that makes its willingness to push ahead all the more admirable and daring (or all the more crazy, depending on how you look at it).
I’m certainly not saying Google can’t accomplish its goal. Google has dealt plenty with regulators and governments in the past, and it has already cut its teeth in the international spectrum arena by working with governments on white space broadband.
The Iridium Next satellite constellation
The Iridium Next satellite constellation
There’s also a precedent for truly global communications providers, namely the satellite networks that traverse the heavens. Loon is very similar to the low-Earth orbit satellite constellations built by Iridium and Globalstar(gsat) and uses the same mesh-networking principles. Those birds zip over the globe just above the atmosphere and ignore international borders. The main difference is that Google’s balloons are surfing the atmospheric wind currents, while Iridium and Globalstar are riding the Earth’s gravitational pull.
But space is still an open frontier, loosely regulated by international treaties.  Most governments consider the stratosphere above them their sovereign airspace, which is why they shoot down spy planes that venture into it.
Earlier today, I participated in a panel discussion about the feasibility of Loon on HuffPost Live, in which the Electronic Frontier Foundation’s Jillian York raised a telling question: How long before some unstable government seeking to wreak havoc on its world’s communications infrastructure starts shooting down Loon balloons overhead?

A United Nations of broadband

Google might opt to keep the network limited. It has some control of the movements of the balloons. It can increase or decrease their altitude, catching cross currents. It could feasibly keep the Loon gird centered over specific countries by letting the balloons track back and forth. But Google’s ultimate goal seems to be to let them float free blanketing the world in constantly shifting floating mesh.
Google HQ
Loon is truly a noble project, and, sure, Google has profit motive in connecting billions more people to the internet. But this is how technology and communications revolutions are born – one company with a crazy idea for a network and the wherewithal and resources to implement it.
Technology isn’t a barrier. Mesh networks are nothing new, and dirigibles have been around since the time of Graf Zeppelin. The minefield here is entirely political. With every fiber of my being I want Project Loon to succeed, and I’m actually fairly in awe of Google for having the chutzpah to attempt it. But part of me also believes that Google’s Project Loon’s evangelists were perhaps a bit too idealistic in their high-school model U.N. classes.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Da produção dos sentidos no período técnico-científico informacional

Política| 19/06/2013 | Copyleft
Boletim Carta Maior

As redes, as ruas e os riscos da incerteza


Há o imenso risco do movimento virar as costas para o fato de que o "gigante" não acordou somente agora e que esse país já foi palco de muitas lutas antes da internet. Afinal, foi gente muito desperta que lutou para construir nossa imperfeita democracia. Não saber distinguir verdadeiros adversários e ignorar que a longa luta por justiça, liberdade e democracia não começa agora, poderá levar os atuais movimentos a uma profunda derrota. Por Vinicius Wu.

 
 
Não resta dúvida de que a grande novidade das manifestações dos últimos dias é seu caráter descentralizado, atomizado, sua organização em rede e sua disseminação horizontal. E não se deve criar falsos fantasmas: não houve partidos e nem grupos "subversivos" na origem do movimento. A ultraesquerda e a oposição neoliberal podem até tentar, mas estão longe de "dirigir" as mobilizações, muito embora haja, sim, uma disputa aberta sobre o significado, o sentido e os eventuais desdobramentos políticos dos protestos.

A direita neoliberal do país pretende instrumentalizar os manifestantes. Querem canalizar as mobilizações de acordo com seus interesses, desgastar o campo progressista e reverter as conquistas populares dos últimos anos. A esquerda brasileira, por sua vez, precisa se convencer de que a prática da ação em rede chegou ao país e compreender esse processo será decisivo para a luta política no próximo período.

Já ouvi muita gente desdenhar da capacidade de mobilização através das redes sociais no Brasil. Muitos diziam, categoricamente, que convocações pela Web jamais se tornariam ação concreta nas ruas e que, por aqui, dificilmente haveria algo semelhante ao ocorrido em Madri, Londres e outras tantas cidades em 2011. Talvez seja o momento de revisarmos algumas certezas e buscarmos uma leitura mais precisa do que se passa no mundo.

As ações em curso não se enquadram nas categorias tradicionais de análise dos movimentos sociais e a novidade é, de fato, a palavra que melhor caracteriza os meios de difusão dos protestos em rede. Em São Paulo e no Rio, milhares de jovens advogados se mobilizaram pela internet dispondo-se a providenciar pedidos de habeas corpus aos manifestantes que, eventualmente, fossem presos. Estudantes de enfermagem e medicina de universidades paulistas se propuseram a organizar postos voluntários de cuidados médicos para atender os feridos dos próximos atos.

Em Dublin, na Irlanda, cerca de 2.000 pessoas foram a um dos principais pontos turísticos da cidade – o Spire, situado na região central da cidade – para um ato em apoio aos manifestantes brasileiros, causando perplexidade nas forças policiais locais. Atos semelhantes foram convocados para cidades como Paris, Valencia, Madri, Londres, Berlim, Vancouver, Buenos Aires e dezenas de outras pelo mundo.

Mas isso não é tudo. Hackers atuam de diversas partes do planeta postando mensagens de apoio ao movimento na rede e, inclusive, derrubando a segurança de diversos portais de noticias. Vídeos se proliferam na rede denunciando a violência policial e já há até um guia transnacional orientando "cinegrafistas amadores" a agirem com segurança e eficiência. Um outro vídeo, com centenas de milhares de acessos, convocava as manifestações da última segunda. Aos atos realizados seguem-se um mar de postagens com fotos, vídeos, comentários e chamados a novas mobilizações.

Do ponto de vista da forma e da metodologia de mobilização há uma identidade inquestionável com os eventos ocorridos no norte da África e na Europa ocidental desde 2011. Trata-se de um movimento global relacionado à crise do paradigma neoliberal. E claro, há questões locais, objetivas, que têm a ver com as virtudes e os limites do processo de redução das desigualdades sociais experimentado pelo país nos últimos anos. Cartazes - muitos dos quais feitos à mão - apresentam demandas sociais represadas e anseios por novas conquistas. Estamos diante de um certo "mal estar" da revolução democrática, responsável pela massiva, porém incompleta, inclusão social em curso no Brasil e devemos reconhecer que a esquerda que governa o país há dez anos ainda não foi capaz de renovar sua agenda política para enfrentar os próximos dez.

E não há como negar que estamos diante da superação de uma letargia política através da qual o pensamento conservador avançou enormemente no país. Assistimos, muito recentemente, a inúmeras movimentações de caráter conservador, que pareciam promover a aniquilação de toda e qualquer pretensão progressista na sociedade brasileira.

Mobilizações pela criminalização absoluta do aborto e em favor da redução da maioridade penal reforçaram a onda conservadora em curso desde as eleições de 2010. A escolha de Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, as agressões e insultos permanentes de supostos humoristas e formadores de opinião às mulheres e aos homossexuais em pleno horário nobre da TV aberta, sendo recebidas com uma naturalidade perturbadora, são apenas alguns dos indícios de que algo não ia bem na cabeça e na cultura política dos brasileiros. Em parcela expressiva dos jovens mobilizados há um certo grito de revolta contra essa situação.

Mas é preciso também atentar para os limites e os impasses que podem retirar a legitimidade dos protestos e distorcê-los profundamente. A ausência de direção política e de objetivos claros afirmam positivamente sua autonomia, porém, os tornam sujeitos a todo tipo de manipulação - e setores da velha mídia e a direita neoliberal o têm buscado insistentemente. A ação de setores, que beiram a marginalidade em suas ações, também é um risco capaz de distanciar o movimento de amplas parcelas da sociedade.

Também há o imenso risco do movimento virar as costas para o fato de que o "gigante" não acordou somente agora e que esse país já foi palco de muitas lutas antes da internet. Afinal, foi gente muito desperta - e atenta - que lutou bravamente para construir nossa imperfeita democracia. Não saber distinguir verdadeiros adversários e ignorar que a longa luta por justiça, liberdade e democracia não começa agora, poderá levar os atuais movimentos a uma profunda derrota política, além de transmitirem involuntariamente um atestado de veracidade à falaciosa tese das elites sobre a suposta passividade do povo brasileiro.

Pode ser que o movimento ganhe vitalidade ou se esvazie nas próximas semanas. Talvez tudo seja relativizado com o passar dos dias e que não haja nenhuma consequência mais drástica sobre o atual sistema político brasileiro. Ou não. Mas o que ocorre atualmente com os jovens do país nos estimula a pensar. E mais importante do que especular sobre o que virá é compreender o que se passou nos últimos dias. Estamos diante de um novo tipo de ativismo político, característico da sociedade em rede do século XXI. Novos sujeitos políticos e sociais - incluindo a chamada "nova classe média" - irromperam repentinamente na cena politica nacional. E o Brasil já não é mais o mesmo.

(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul e coordenador do Gabinete Digital

domingo, 16 de junho de 2013

Ciberespaço, ativismo digital e ocupação do espaço público

Fonte: Fronteiras do Pensamento

15 jun
2013
Manuel Castells analisa as manifestações em São Paulo
por Equipe Fronteiras

Sociólogo espanhol, Manuel Castells esteve no Fronteiras do Pensamento 2013 para a conferência Redes de indignação e esperança, homônima à sua mais recente obra, a ser lançada no Brasil em setembro (editora Zahar). Em São Paulo, no preciso momento de sua fala no Teatro Geo (11/06), a Avenida Paulista era espaço de tensão entre a polícia militar e os manifestantes contra o aumento das passagens de ônibus. Questionado pelo público sobre o que estava acontecendo na cidade, Manuel Castells respondeu:
Todos estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à tona uma indignação maior. Por isso, meu livro se chama REDES de indignação e de esperança. O fato provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se sabe, mas seguramente não é o que está aí. Porque, fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.
Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva, concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os motivos - o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas, trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a isso.
Veja que interessante é o caso da Praça Taksim e do Parque Gezi, em Istambul. Há meses, eles estão protestando contra a destruição do último parque no centro histórico da cidade, onde seria construído um shopping center, um complexo dedicado aos turistas, que nega aos jovens o espaço que poderiam ter para se relacionar com a natureza, para se reunir, para existir como cidadãos. Portanto, é a negação do direito básico à cidade. O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir permissão a autoridades. Por isso, tenta-se ultrapassar a lógica da liberdade na internet à liberdade no espaço urbano.
Eu não posso opinar diretamente sobre os movimentos que estão acontecendo neste momento aqui em São Paulo, mas há algumas características de tentar manifestar que a cidade é dos cidadãos. E este é o elemento fundamental em todas as manifestações que eu observei no mundo.
O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Edward Snowden será torturado como Bradley Manning?

Edward Snowden: "Não quero viver num mundo onde tudo o que eu faço e digo é registrado"

O assistente técnico da CIA que revelou os programas de vigilância interna dos EUA teme que "nada de bom" lhe venha a acontecer no futuro

Edward Snowden, um antigo assistente técnico da CIA e funcionário de uma empresa do sector da defesa, identificado como a fonte das notícias relativas aos programas de vigilância interna da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, explica as razões por que decidiu passar documentos internos e classificados como secretos: "Não quero viver numa sociedade que faz este tipo de coisas, num mundo onde tudo o que eu faço e digo é registrado”.
Eward Snowden está em Hong Kong S/Ewen MacAskill/The Guardian/Reuters

“A NSA [Agência Nacional de Segurança, na sigla original em inglês] construiu uma infra-estrutura que lhe permite interceptar quase tudo. Com essa capacidade, a grande maioria das comunicações humanas são automaticamente integradas no sistema de forma discricionária. Se eu quisesse ver os seus emails ou os telefonemas da sua mulher, bastava aceder a esse registo. Eu posso obter a informação relativa aos seus emails, palavras-passe, registos telefónicos, cartões de crédito”, explicou.

A fuga de informação de Edward Snowden expôs a existência do programa PRISM, através do qual a NSA recolhe dados de empresas de telecomunicações como a Verizon e de gigantes tecnológicos como a Microsoft, Apple, Google e Skype e ainda de redes sociais como o Facebook.
Segundo o informático, a população está completamente indefesa perante a sofisticação do programa. “As pessoas não têm noção do que é possível fazer: a extensão das capacidades [da NSA] é horripilante. Nós podemos plantar escutas dentro das máquinas. Quando você aceder à rede, eu identifico a sua máquina, e você nunca mais estará a salvo, independentemente das protecções que usar”.

 “Tenho os mapas que mostram onde é que as pessoas são mais escrutinadas. [A NSA] recolhe mais comunicações digitais na América do que na Rússia”, diz Snowden, que, instado a comparar o programa norte-americano com as alegações de pirataria informática pelo Exército chinês, garante que “[os EUA] pirateiam toda a gente em todo o lado. Gostamos de fazer essa distinção entre nós e os outros. Mas estamos em quase todos os países do mundo. E não estamos em guerra com esses países”.

Além de falar nas suas razões – pessoais e políticas – para divulgar publicamente os programas secretos da NSA, Edward Snowden informa por que prescindiu da protecção do anonimato e quis ter a sua identidade revelada como o responsável pela fuga de informação. “Não tenho nenhuma intenção de esconder quem sou porque sei que não fiz nada de errado.”

Ainda assim, procura proteger a família e conhecidos, assegurando que ninguém tinha conhecimento das suas acções e lamentando o que, antevê, será a resposta “agressiva” das autoridades. “O meu medo é que vão atrás da minha família, amigos, a minha namorada, qualquer pessoa que tenha alguma ligação comigo. Vou ter de viver com isso o resto da minha vida. Não vou poder comunicar com eles.”

Sobre o seu refúgio num hotel em Hong Kong, Snowden estima que seja provisório. “Não deixa de ser trágico que um americano tenha que se mudar para um país que tem reputação de garantir menos liberdade”, nota, acrescentando que apesar de pertencer à China, Hong Kong tem “uma forte tradição de liberdade de expressão”. Mas a sua intenção é pedir asilo na Islândia, “um país com os mesmos valores que partilho”.

Quando lhe perguntam sobre o que acha que lhe vai acontecer, Edward Snowden responde simplesmente: “Nada de bom”. Acha possível que seja emitido um mandado de captura contra si através da Interpol, e que possa terminar na cadeia, mas sublinha que sempre esteve disposto a correr esse risco. “Ninguém pode desafiar a agência de serviços secretos mais poderosa do mundo sem aceitar esse risco. Se eles me quiserem apanhar, vão-me apanhar”, acredita.

***

MAIS INFORMAÇÕES:

O que é PRISM? (Gizmodo)
http://gizmodo.uol.com.br/o-que-e-prism/

Esquema de espionagem norte-americano pode ter afetado brasileiros (Folha de S. Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/dw/1293728-esquema-de-espionagem-norte-americano-pode-ter-afetado-brasileiros.shtml

Prism: porque nós deveríamos nos preocupar (Galileu)
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI339098-17770,00-PRISM+PORQUE+NOS+DEVERIAMOS+NOS+PREOCUPAR.html

Fonte que revelou rede espiã dos EUA deixa hotel em Hong Kong e busca asilo (Estadão)
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fonte-que-revelou-rede-espia-dos-eua-deixa-hotel-em-hong-kong-e-busca-asilo-,1041059,0.htm

União Europeia vai debater com EUA programa de vigilância PRISM (Lusa)
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=3265292

Prism: 80 organizações pressionam Congresso norte-americano (IDG Now!)
http://idgnow.uol.com.br/internet/2013/06/12/prism-80-organizacoes-pressionam-congresso-norte-americano/

Além de telefonemas, EUA monitoram e-mails e redes sociais no exterior (Estadão)
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,alem-de-telefonemas-eua-monitoram-e-mails-e-redes-sociais-no-exterior,1039929,0.htm

Homem que vazou informações secretas dos EUA conta detalhes do monitoramento (Jornal Nacional)
http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/homem-que-vazou-informacoes-secretas-dos-eua-conta-detalhes-do-monitoramento/2626911/


domingo, 9 de junho de 2013

Sobre sistemas colaborativos de distribuição da informação

Tecnologias da cooperação

do blog: Autoria em Rede

Uma das vertentes de minhas pesquisas, desde o mestrado, é o estudo das tecnologias de cooperação, isto é, dos instrumentos que têm sido criados para gerenciar a qualidade nos ambientes colaborativos.
Tenho trocado ideias sobre este tema com o Carlos Nepomuceno, jornalista e consultor especializado em estratégia no mundo digital. Assim como eu, ele está interessado em pensar a nova dinâmica da comunicação distribuída e as formas de administrar as interações em rede.

Conheça o blog do Nepô.

Na última sexta-feira, dia 7 de junho, eu participei do hangout que ele promove regularmente. Conversamos sobre vários tópicos, passando pelas tecnologias de cooperação e por meus estudos sobre o website Slashdot, a Wikipédia e a autoria em rede, entre outros assuntos.
Quem tiver curiosidade, pode conferir aqui o vídeo da conversa:



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Geração y

Jovens brasileiros são mais otimistas quanto à tecnologia que o resto do mundo

Da redação de ARede

06/06/2013 – A Tefónica divulgou hoje pesquisa que mostra a relação entre os jovens de todo o mundo, entre 18 e 30 anos, e a tecnologia. No Brasil, foram ouvidos 1028 pessoas. Por aqui, 92% da geração do milênio, como é chamada esta geração, acreditam que a tecnologia facilita a transposição de barreiras de linguagem, em comparação a 87% em todo o mundo. Já 85% por cento creem que a tecnologia tornou mais fácil encontrar um emprego, comparado a 83% em nível global. E 71% entendem que “a tecnologia cria oportunidades para todos”, se comparado aos 69% mundialmente.
A pesquisa, feita em parceria com o Financial Times, ouviu mais de 12 mil pessoas da geração do milênio em 27 países. A geração do milênio brasileira também acredita ser mais antenada com tecnologia do que seus pares globais. Mais de um quarto (26%) acredita fortemente estar na vanguarda da tecnologia ante 19% mundialmente. A maioria (91%) descreve seu conhecimento pessoal e familiaridade com tecnologia como bom ou excelente, comparado a 79% no resto do mundo.

A pesquisa mostra que a geração do milênio brasileira – também conhecida como geração Y – está muito confiante sobre seu potencial para fazer a diferença, mais do que muitos de seus parceiros globais. A maioria (80%) acredita poder fazer diferença em suas comunidades locais, em comparação a 62% no resto do mundo. 58% acreditam poder fazer a diferença globalmente, ante 40% mundialmente.

Mais da metade (54%) afirma que a melhoria do acesso e da qualidade da educação são as maneiras mais importantes de se fazer a diferença no mundo, seguido por proteção ao meio ambiente (45%) e eliminação da pobreza (43%).

A geração do milênio brasileira também valoriza o empreendedorismo, sendo que quase metade (47%) estima que ser um empreendedor é muito importante. Quase um quarto (24%) acredita ter oportunidades de tornar-se empreendedor em seu país ou desenvolver e trazer uma ideia ao mercado (contra 19% mundialmente).

Mesmo entre um número significativo de jovens cujos pontos de vista e comportamento refletem atitudes geralmente positivas em relação à tecnologia, empreendedorismo e habilidade em fazer a diferença localmente, a pesquisa da Telefónica identificou integrantes da geração do milênio que se destacaram dos demais: 11% dos pesquisados que formam um grupo definido como “líderes da geração do milênio”.

Os líderes da geração do milênio são os entrevistados que acreditam estar na vanguarda de tecnologia, fazer a diferença em suas comunidades locais e ter a oportunidade de tornarem-se empreendedores em seu país ou desenvolver e trazer uma ideia para o mercado.

Além disso, 39% dos líderes da geração do milênio brasileiros acreditam que a tecnologia foi um fator influenciador chave se comparado com os 32% da geração do milênio em geral. Setenta e um por cento dos líderes da geração do milênio brasileiros acreditam ter excelente conhecimento pessoal e nível de conforto com tecnologia se comparado aos 45% da geração do milênio brasileira em geral.
Oitenta e três por cento dos líderes da geração do milênio brasileiros acreditam que chegar ao topo da carreira é muito importante, comparado a 71% da geração do milênio brasileira. Quarenta e sete por cento da geração do milênio disse ser fácil ou muito fácil fazer a progressão da escola ao local de trabalho, comparado aos 61% dos líderes da geração do milênio brasileiros.

Os líderes da geração do milênio brasileiros são civicamente engajados e usam tecnologia para manter-se informados sobre política. 58% dos líderes da geração do milênio brasileiros afirmam sempre participar do processo político de seu país, comparado aos 51% da geração Y do Brasil. Além disso, 69% concordam fortemente que a tecnologia tornou-os mais bem informados sobre questões políticas em seu país, em comparação aos 57% da geração do milênio brasileira. O Brasil tem uma das maiores concentrações de líderes da geração do milênio (18% ante 11% mundialmente).

Na maneira como veem o uso da tecnologia e o impacto que isto causa em suas vidas, a pesquisa aponta para uma lacuna de gênero entre homens e mulheres. Por exemplo, 32% dos homens consideram estar na vanguarda da tecnologia, comparado com 21% das mulheres. Quase metade (49%) dos homens brasileiros descreve seu conhecimento pessoal e conforto com a tecnologia como excelentes, em comparação a 40% das mulheres com esta opinião. Os homens brasileiros também acreditam mais firmemente que a tecnologia teve influência na maneira como moldaram sua visão sobre a vida (42% ante 21% feminino).

Os homens brasileiros da geração do milênio têm duas vezes mais probabilidade de tornarem-se líderes da geração do milênio do que as mulheres desta mesma geração (22% comparado a 13%).

A pesquisa também fornece um novo olhar sobre a visão da geração do milênio brasileira a respeito de grande leque de assuntos atuais:

Mais de três quartos (81%) acham que os melhores dias do Brasil ainda estão por vir.

A geração do milênio brasileira se descreve como mais otimista de que seus parceiros globais, pois 58% dizem ser otimistas sobre seu futuro, em comparação com 32% mundialmente.

86% acreditam que sua qualidade de vida é melhor atualmente do que era na geração de seus pais.
Apesar da confiança em si e em seu país, a geração do milênio brasileira preocupa-se com as desigualdades sociais e a educação (24% cada), citando estes fatores como os mais importantes a afetarem a região, seguidos por saúde (17%) e pobreza (11%).

70% afirmam que a questão de mudanças climáticas é muito urgente, comparada aos 53% em nível global.

Mais da metade acredita que tanto a economia global quanto as regionais estão caminhando na direção incorreta (54% e 52% respectivamente).

52% disseram ser difícil para pessoas de sua geração fazer a progressão da escola ao local de trabalho.

Mais da metade (53%) concorda fortemente que o que eles são como indivíduo está ligado ao tipo de trabalho que fazem.

87% esperam ter dinheiro suficiente para aposentar-se de maneira confortável, comparado a 61% no resto do mundo.

70% da geração do milênio brasileira escolheu que ser feliz é mais importante do que ser rico, bem sucedido ou famoso.

37% acreditam que a tecnologia é o campo de estudo mais importante para garantir sucesso pessoal no futuro.

A geração do milênio brasileira acredita que votar (91%), casar com quem se escolhe (81%) e liberdade de expressão (81%) são direitos e não privilégios.

Metodologia da pesquisa

A Telefónica, em parceria com o Financial Times, encomendou uma pesquisa quantitativa de entrevistas online com 12.171 indivíduos da geração do milênio, com idades entre 18 e 30 anos em 27 países ao redor de seis regiões do mundo, incluindo América do Norte, América Latina, Europa Ocidental, Central e Oriental, Ásia e Oriente Médio/África.
A empresa Penn Schoen Berland conduziu uma pesquisa com 190 questões de 11 de janeiro a 4 de fevereiro de 2013. Foram pesquisados integrantes da geração do milênio da Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, República Tcheca, Egito, França, Alemanha, Índia, Israel, Itália, Japão, Arábia Saudita, Coréia, México, Peru, Polônia, Rússia, África do Sul, Espanha, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela.
O tamanho da amostra de cada país representado no número global foi ponderado pelo percentual da população local com acesso a internet. A margem de erro global foi de +/-0.9%. No Brasil, 1028 adultos da geração do milênio foram pesquisados, com margem de erro de +/-3.1%.

domingo, 2 de junho de 2013

Comunicação, publicidade e mídia

O esquema Globo de publicidade


Comuns no mercado, Bonificações por Volume direcionam anunciantes aos maiores grupos de mídia; especialistas criticam prática criada pela Rede Globo

29/05/2013

Patrícia Benvenuti

Mais de 16 milhões de comerciais por ano e um relacionamento com 6 mil agências. Esse é um resumo do desempenho da Rede Globo junto ao mercado publicitário brasileiro, orgulhosamente exibido na página de internet da emissora.

Líder na arrecadação de verbas publicitárias entre todos os meios de comunicação, a Globo também mostra sua força em cifrões. Somente em 2012, os canais de TV (abertos e por assinatura) das Organizações Globo arrecadaram R$ 20,8 bilhões de reais em anúncios, segundo informe divulgado pela corporação.

Por trás dos números, porém, se esconde uma prática que os grandes grupos de mídia preferem ocultar: o pagamento das Bonificações por Volume (BV), apontado por especialistas como um dos responsáveis pelo monopólio da mídia no país.

Monopólio
Desconhecidas pela grande maioria da população, as Bonificações por Volume são comissões repassadas pelos veículos de comunicação às agências de publicidade, que variam conforme o volume de propaganda negociado entre eles.

A prática existe no Brasil desde o início da década de 1960. Criada pela Rede Globo, seu objetivo seria oferecer um “incentivo” para o aperfeiçoamento das agências. Com o tempo, outros veículos aderiram ao mecanismo, que hoje é utilizado por todos os conglomerados midiáticos no Brasil.
O pagamento dos bônus, no entanto, é alvo de críticas de militantes do direito à comunicação, que argumentam que a prática impede a concorrência entre os meios de comunicação na busca por anunciantes. Isso porque, quanto mais clientes a agência direcionar a um mesmo veículo, maior será o seu faturamento em BVs.

Para o professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Venício Artur de Lima, a prática fortalece os grandes grupos, já que leva anunciantes aos meios que recebem publicidade. “Exatamente por terem um volume alto de publicidade é que eles [meios] podem oferecer vantagens de preço”, explica.

O resultado desse processo, segundo o professor, é a dificuldade de sobrevivência dos veículos de menor capacidade econômica, que não têm recursos para as bonificações. “Você compara um blog ou um portal pequeno com um portal da UOL, por exemplo. Não tem jeito de comparar, são coisas desiguais”, afirma.

Antes restrita às mídias tradicionais, as bonificações vão ganhando novos nichos. De acordo com agências de publicidade e com o presidente do Internet Advertising Bureau (IAB), Rafael Davini, atualmente o Google também utiliza BVs. Segundo informações do mercado, o Google seria hoje o segundo grupo em publicidade no Brasil, ficando apenas atrás da Rede Globo.

Líder em BVs
O exemplo mais forte da relação entre bônus e concentração, para o jornalista e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, é o caso da televisão. “Todos os canais fazem isso, é uma forma de manter a fidelidade da agência de publicidade com o veículo. Só que, como a Globo é muito poderosa, a propina é muito maior”, diz.

De acordo com dados do Projeto Inter-Meios, da publicação Meio & Mensagem, a publicidade destinada à TV aberta em 2012 foi de R$ 19,51 bilhões. Cerca de dois terços desse valor ficaram com a Globo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom) e editor da Revista Fórum, Renato Rovai, outro procedimento adotado pela emissora é o repasse antecipado dos bônus. “A Globo estabelece uma bonificação por volume de publicidade colocada e antecipa o recurso. Aí a empresa fica presa a cumprir esse objetivo. É assim que fazem o processo de concentração”, ressalta.

Borges critica ainda o silêncio midiático em torno do assunto. “É um tema-tabu, nenhum veículo fala. Como todo mundo utiliza, ninguém pode reclamar. Fica todo mundo meio cúmplice”, dispara.

Regulamentação
Em 2008, as bonificações foram reconhecidas e regulamentadas pelo Conselho Executivo das Normas Padrão (CNPE), entidade criada pelo mercado publicitário para zelar as normas da atividade. O CNPE classifica os bônus como “planos de incentivo” para as agências.

Dois anos depois, as bonificações foram reconhecidas também por lei. Elas estão previstas na Lei nº 12.232, que regulamenta as licitações e contratos para a escolha de agências de publicidade em todas as esferas do poder público. Segundo o texto, “é facultativa a concessão de planos de incentivo por veículo de divulgação e sua aceitação por agência de propaganda, e os frutos deles resultantes constituem, para todos os fins de direito, receita própria da agência”.

Para Renato Rovai, a aprovação do texto agravou o problema. “É uma corrupção legalizada. Nenhum lobby é legalizado no Brasil, mas o BV é”, critica o presidente da Altercom.

A Lei nº 12.232 também foi objeto de polêmicas durante o julgamento da ação penal 470, no caso que ficou conhecido como “mensalão”. Isso porque o texto original da lei permitia que as agências ficassem com o bônus, mas só para contratos futuros. Entretanto, uma mudança feita na Comissão de Trabalho em 2008 estendeu a regra a contratos já finalizados. O fato gerou discordância entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ayres Britto chegou a afirmar que as alterações foram feitas para beneficiar os réus do “mensalão”, acusados de peculato referente a desvios de Bvs.

Mudanças
Mudar a legislação, na avaliação do presidente da Altercom, é um passo fundamental para acabar com a prática das bonificações por volume. No entanto, são necessárias mais medidas para reverter o quadro atual da mídia no país. “É preciso mudar a regulamentação e criar um novo marco legal, incluindo as agências”, defende Rovai. Uma das propostas para isso é o Projeto de Lei de Iniciativa Popular para as Comunicações. Criado por organizações populares, o PL visa, dentre outros objetivos, combater o monopólio no setor e garantir mais pluralidade nos conteúdos.

Em seu artigo 18, o projeto propõe que “os órgãos reguladores devem monitorar permanentemente a existência de práticas anticompetitivas ou de abuso de poder de mercado em todos os serviços de comunicação social eletrônica”, citando “práticas comerciais das emissoras e programadoras com agências e anunciantes”. Para se transformar em um projeto de lei, a proposta precisa de um 1,3 milhão de assinaturas.
 
 
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